São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

Novela volta demais no tempo


"Vende-se um Véu de Noiva" procura simplicidade, mas oferece amadorismo


HÁ UMA crença de que voltar às histórias mais simples pode servir de passaporte para o sucesso de uma telenovela.
No fundo, pensa-se que o telespectador gosta mesmo é das intrigas melodramáticas mais básicas, centradas no embate entre o bem e o mal, representado pelo amor de um casal central, intrinsecamente bom, justo e verdadeiro, impedido pelas artimanhas de um vilão astuto e pelas intervenções cruéis do destino.
Talvez seja parcialmente verdade -esse núcleo duro funda, de fato, boa parte da narrativa romântica, que ainda tem vigência contemporânea-, mas o problema é a parte que não é verdade -essa crença reivindica uma ingenuidade francamente em desuso.
Ora e quando se quer, digamos, voltar às origens, não há nome mais emblemático do que o de Janete Clair, a rainha das telenovelas. Só que, pelo jeito, "Vende-se um Véu de Noiva" recua demais na obra de Janete Clair -o texto original era de uma radionovela dos anos 60. Poderia ser até engraçado, caso não fosse levado a sério.
Mas, certamente, a paródia inteligente não está nos planos de Iris Abravanel, como se viu pelos primeiros capítulos da novela. Seu projeto vai, na verdade, na direção oposta: emprestar o prestígio e o nome de Janete Clair para ver se a coisa vai.
Por ora, não vai. Apesar de a tecnologia HD produzir imagens de alta qualidade -há todo um clima solar interessante na novela ajudado pela abundância de cenas externas-, o resto todo prima pelo amadorismo: diálogos, roteiro, atuações, caracterizações.
A trama começa em 1981, mas só sabemos disso porque aparece um letreiro no início, pois os elementos cenográficos remetem a um período bem indefinido, com elemento dos anos 50 e dos 70. Não dá para saber por que se insiste em caracterizações "de época" se não se faz nenhum esforço -ou se faz o errado- para que, de fato, o espectador se sinta para lá transportado.
Felizmente, deve ser de curta duração esse mergulho no passado, pois logo, logo, Eunice, a prima pérfida, vai dar cabo da mocinha e ficar com o mocinho. O diabo é que o bebê que está na barriga da mocinha terá um destino misterioso, coisa que vai movimentar a trama quando ela chegar aos dias de hoje.
Quando fez "Pecado Capital", em 1975, Janete Clair já tinha percebido que, sem algum esforço para representar, de alguma maneira, as complicações contemporâneas, o núcleo melodramático não funciona. Pelo jeito, Iris Abravanel vai teimar em ignorar as lições de quase 35 anos atrás.

biabramo.tv@uol.com.br


Texto Anterior: Crítica/DVD/"Vergonha": Ingmar Bergman se arrisca em drama de tom político
Próximo Texto: Televisão/Crítica: "Edukators" transforma euforia juvenil em angústia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.