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TEATRO
Em "Viagem em Terra Interior", platéia explora sentidos com olhos vendados
Francesa subverte o público
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Um dos dramaturgos do século
de ouro espanhol, o 17, Pedro Calderón de la Barca (1600-81) clamava por um grande teatro do
mundo para ilustrar as possibilidades de tempo e espaço poéticos
na arte da representação.
No espetáculo "Viagem em Terra Interior", uma das atrações do
Festival Internacional de São José
do Rio Preto (a 451 km de São
Paulo), a autora e encenadora
francesa Léa Dant quer dar conta
dessa dimensão invertendo os parâmetros de recepção do espectador e de ação do ator.
Um grupo de apenas dez pessoas é conduzido, de olhos fechados, individualmente, por um dos
dez atores. O público deixa a condição de voyeur e explora outros
sentidos, como o tato, o cheiro.
Sempre na condição de anônimo (abre-se mão até da hora do
aplauso para o elenco), um ator
conta e interpreta uma história ao
pé do ouvido. A intenção é estimular o espectador a vivenciá-la
por meio do imaginário.
Caminha-se por rua, toma-se
trem na plataforma de estação, foge-se de perseguição, olha-se através de janela, enfim, tudo conforme a paisagem e os sentimentos
construídos por cada um.
Léa Dant, 29, defende o status
de espetáculo para o seu projeto,
mesmo ao desconstruir a relação
ator/espectador. "Cada personagem é bem delineado, tem marcação precisa, criado a partir do universo do ator", afirma.
"Busco em cada espectador a
sua viagem interior. A ficção que
o faz voltar-se para si pode expressar o real, a vontade de estar
próximo de uma verdade", diz.
"Viagem em Terra Interior" estreou na França há quatro anos. A
remontagem da encenadora é interpretada por atores de São Paulo e acontece num centro social da
periferia de Rio Preto.
Com cerca de 15 anos de carreira, Dant acumula formações teóricas ou autodidatas nas áreas de
teatro, artes plásticas e cinema.
Sua principal influência é o encenador francês Armand Gatti, 79, a
quem tem por mestre. Gatti já fez
teatro em campos de concentração nazistas.
Na França, Dant trabalha desde
1999 com sua companhia fixa, a
Teatro da Viagem Interior. Veio
ao Brasil em novembro do ano
passado para participar do projeto de intercâmbio Tintas Frescas,
iniciativa da Associação Francesa
de Ação Artística (Afaa).
O resultado é a montagem ora
em Rio Preto, durante todos os
dias do festival, e com perspectiva
de ser apresentada em São Paulo
em agosto, em alguma unidade
do Sesc.
3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO - até 27/7. Quanto:
R$ 5, R$ 10 ou entrada franca.
Informações pelo tel. 0/xx/17/3215-1830 ou no site
www.festivalriopreto.com.br. Co-patrocinador: Petrobras.
O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do festival
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