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TEATRO
Ator protagoniza peça de Neil Simon em São Paulo; ex-apresentador de campanhas do PT, ele se diz "triste" com a corrupção
Fagundes busca personagem em seis mulheres
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
De certa forma, é a história de
um homem em busca de seis mulheres, mas que acaba encontrando a si mesmo depois de penar.
Ecos de "Seis Personagens à
Procura de um Autor", do italiano Luigi Pirandello, captados em
"As Mulheres da Minha Vida",
tradução de Domingos Oliveira
para "Jake's Women", do dramaturgo americano Neil Simon.
O texto de 1992 ganha sua primeira montagem brasileira sob
direção de Daniel Filho, com temporada a partir de amanhã, para
convidados, no teatro paulistano
Cultura Artística. Resulta divertido e inteligente o exercício de metalinguagem no qual os personagens borram as fronteiras da ficção e da realidade conforme a
mente de um escritor em crise.
Antonio Fagundes é George,
cinqüentão boa pinta, separa-não-separa de Diana, com quem
está casado há oito anos. Diana
(Fernanda D'Umbra) sucede Júlia
(Paloma Duarte), morta num acidente de carro há dez anos, mãe
de Carol, filha única de George
que reveza o enredo em dois tempos: aos 12 (Júlia Novaes) e aos 21
anos (Amazyles de Almeida).
Somam-se a irmã dele, Karen
(Chris Couto), e a psicanalista
Edith (Eliana Rocha), e eis o mulherio quebra-cabeça por meio do
qual o público vai conhecer os
sentimentos fracos e fortes desse
pobre super-homem.
"Essas mulheres todas falam
dos sentimentos e conflitos dele,
mas, na verdade, é ele quem está
falando de si, ainda que sem abrir
muito a boca nesse sentido", diz
Fagundes, 56. Daí o "truque" da
dramaturgia de Simon, segundo o
ator. "Nós homens não sabemos
nos colocar emocionalmente da
forma razoável como as mulheres
conseguem."
Os diálogos perpassam a relação mulher-homem, irmã-irmão,
filha-pai e psicanalisando-psicanalista. Como na síntese perpetrada a certa altura por Karen, a irmã
formada em cinema, divorciada,
depressiva e sem-cerimônia com
os queixumes de George: "Elas te
amam. Elas te deixam. Elas voltam. Elas ficam preocupadas com
você. Elas morrem. Elas crescem.
Elas lutam, choram por você. É
um círculo, George. Onde o palhaço, o elefante, o trapezista são
mulheres. E você, naturalmente,
dono do circo".
Na meticulosa construção de
Neil Simon, as ações do protagonista se passam em dois planos:
ora no andar superior, onde está o
computador, coração de um
Deus-adão que tenta manter tudo
sob controle, ora no plano inferior, terreno movediço das frustrações, dos mal-entendidos do
passado, do perdão postergado.
Não por acaso, há uma psicanalista em cena: Simon maneja os
jargões do divã para esclarecer alguns passos imberbes de George.
Ao contrário da montagem original que assistiu na Broadway,
em 1992, estrelada por Alan Alda,
Daniel Filho recria a geografia sugerida por Simon e expõe níveis
mais sutis na cenografia de Ulisses Cohn, um apartamento não-realista, com painéis em preto-e-branco ao fundo, estampando
imagens de Nova York.
"É quase uma encenação de teatro de arena sobre um palco italiano", diz Daniel Filho, 67, ilustrando o gigante proscênio da sala
principal do Cultura Artística,
mais afeita a concertos.
Aliado à iluminação de Domingos Quintiliano, o diretor pretende pontuar o entra-e-sai de personagens, aparições súbitas, frases
curtas que pedem agilidade.
O homem de televisão e de cinema Daniel Filho religa, cerca de 40
anos depois, a sua primeira direção para teatro com sua arte de
formação na juventude: cresceu
sob o signo do teatro de revista
em família. Além de experimentar a direção, inaugura parceria de
produção com Antonio Fagundes, com quem trabalhou há pouco no filme "A Dona da História".
Aos 39 anos de carreira, Fagundes está credenciado a cobrar "ética" do espectador para não chegar atrasado ao teatro, o que repisa a cada projeto. O ator também
ficou calejado no mundo paralelo
da política que freqüentou como
ex-apresentador das campanhas
do Partido dos Trabalhadores.
Parou há cerca de cinco anos.
"Talvez tenha sido até uma premonição", diz, citando as notícias
sobre corrupção que o abateram.
"É claro que estou triste. O PT
sempre foi pautado pela integridade, foi o que fez a gente votar
nele nesses anos todos. De repente, o PT no poder, com deputados,
senadores, governadores, prefeitos e um presidente da República,
começou a ser jogado nessa vala
comum da corrupção", diz.
"Isso quer dizer que talvez o sistema seja tão corrupto que nem
um partido como o PT agüente
muito tempo. Ainda assim, acredito que a filosofia seja a de denunciar, expulsar e continuar sua
tradição ética. A esperança é a última que morre."
As Mulheres da Minha Vida
Quando: hoje (convidados); qui. e sáb.,
às 21h; sex., às 21h30; e dom., às 18h
Onde: Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 0/xx/11/ 3258-3344)
Quanto: R$ 40 a R$ 80
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