São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição em SP reúne obras de 50 artistas para contar percurso da pintura feita por mulheres no país

Tintas femininas recontam sua história

ALEXANDRA MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Mulheres Pintoras" exibe o trabalho de 50 artistas. Há um ou outro nome conhecido, como os de Tomie Ohtake, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Djanira, Yolanda Mohalyi, Maria Leontina, algumas das que se tornaram "pintoras mulheres". Sobre as outras, pouco se sabe.
A mostra de artistas praticamente desconhecidas quer discutir a presença feminina desde meados do século 19 na arte brasileira. "As mulheres aprendiam a tocar piano, bordar, pintar. Ao se casar, largavam a pintura", explica a curadora, Ruth Sprung Tarasantchi, sobre a alta taxa de "evasão" entre as mulheres pintoras.
Dentre as obras, vindas do acervo da Pinacoteca e de colecionadores da Sociarte, predominam paisagens, naturezas-mortas e muitas, muitas flores, temas predominantemente "femininos" e a partir dos quais as moças se iniciavam no manejo das tintas e pincéis. "Nem todas as obras presentes são de grande valor artístico, mas representam o gosto burguês da sociedade da época", sublinha a curadora. A escapada do lado doméstico da pintura ocorre em surpresas, como a quase klimtiana "Coeur Meurtri", de Nicota Bayeux Benain (1870-1923), e no gesto de Alina Okinaka (1920-1991), que foi casada com o pintor Massao Okinaka.
Os laços familiares, aliás, permeiam toda a exposição. Se o matrimônio, como no caso das quatro irmãs Do Val e de outras moças de sociedade, era o fim da pintura, em casos mais específicos ele podia se revelar como um incentivo para a arte. Foi o caso de Okinaka e de outras mulheres de pintores -Helena Pereira da Silva Ohashi, casada com Riokai Ohashi, Georgina de Albuquerque, mulher de Lucílio de Albuquerque, e Haydéa Santiago, casada com Manoel Santiago.
Algumas filhas começaram a formação na pintura sob a supervisão dos pais. Anita Malfatti aprendeu as primeiras pinceladas com a mãe, Elisabeth Krug Malfatti, que está na exposição com um retrato. Da própria Anita, há o nu "La Chambre Bleue", de 1925.
Helena Pereira da Silva foi incentivada pelo pai, Oscar Pereira da Silva, que a levou para Paris para estudar na Academia Julian. Helena se casou com o pintor japonês Riokai Ohashi, morto no Japão durante a Segunda Guerra Mundial, e trouxe tons japoneses para a sua obra. Há ainda Regina Gomide Graz, irmã de Antônio Gomide e mulher de John Graz. Noêmia Mourão, que se casou com Di Cavalcanti, dele acabou até emprestando alguns traços.
Tarsila do Amaral, o provável nome mais popular da mostra, tem ali seu "Manacá" (1927) e uma cópia de Pedro Alexandrino, o mestre das boas moças pintoras da sua época.


MULHERES PINTORAS - A CASA E O MUNDO. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844). Quando: abertura hoje, das 11h às 14h; de ter. a dom.: das 10h às 17h30; até 17/10. Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados).


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