São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Festival de curtas encara a política

Em sua 19ª edição, que começa amanhã em SP, evento discute "militância" e "engajamento" com mais de 400 filmes

Em programação de oito dias, festival terá exibições gratuitas de títulos nacionais e estrangeiros em 11 cinemas e salas de São Paulo


CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Fazer encaixar mais de 400 títulos em oito dias de programação espalhada por 11 salas é o desafio maior para o público a partir de amanhã, quando começa o 19º Festival Internacional de Curtas-Metragens. Com quase duas décadas de existência, o festival propõe nesta edição um olhar guiado pelo "ideal de participação", segundo Zita Carvalhosa, diretora do evento. "Nosso ponto de partida foi a noção de que política pode ser interessante", diz Carvalhosa. Sob o tema "Política Viva", esta edição traz uma mostra de trabalhos selecionados pelo Submarino Amarelo, grupo de jovens estudantes de cinema e artes visuais que tentam atualizar termos como "engajamento" e "militância". Em meio a intervenções, performances e debates alimentados por seus integrantes, serão exibidos curtas assinados por grandes nomes como Glauber Rocha e Agnès Varda, filmes militantes dos anos 80 e uma raríssima oportunidade de conhecer "Vamos Falar de Brasil: Carlos Marighella", feito clandestinamente pelo documentarista francês Chris Marker em pleno obscurantismo da ditadura, no início dos anos 70. A política como forma de estar no mundo também se estende à seleção de produções premiadas nos principais festivais internacionais. "Por ser de custo relativamente barato, aberto à invenção e à experimentação, o curta é o formato que oferece as respostas mais rápidas a inquietações da atualidade", observa Carvalhosa. É o que se pode constatar na multipremiada seleção de filmes romenos programada para esta edição. Sob um prisma alegórico, cotidiano ou de crônica social, a política percorre os três títulos que atestam a vitalidade do cinema feito hoje naquele país, cujos filmes refletem questões como a entrada na União Européia ("Ondas"), as impossibilidades da escolha ("Megatron") e a barbárie na forma de violência juvenil ("Um Bom Dia para Nadar"). Os selecionados da América Latina mantêm viva uma longa tradição de cinema politizado, agora ajustados aos dilemas do presente, seja com o ocaso do castrismo ("Maria e Osmey"), o seqüestro de crianças pela guerrilha ("Caçando Ratos") ou a imigração para os EUA ("Café Paraíso" e "Estrada do Norte"). Mas há também espaços na programação para exercícios, igualmente premiados, de construção de retratos da vida contemporânea, alguns de forma dura ("Danou-Se"), outros, doce ("Na Linha"). Ou trabalhos em que a imagem funciona como material poético explorado seja com distorções ("Tarde de Verão"), de captação da luz ("Ouço Seu Grito"), de experimentações visuais ("Ah, Liberdade!") e de observações silenciosas ("Dez Elefantes"). E, como desde seus primórdios, o festival se preserva como a mais importante janela de exibição da rica produção brasileira no formato. Além dos 55 títulos selecionados para a "Mostra Brasil", a seleção incluiu um novo recorte na seção "Panorama Paulista", com 26 trabalhos feitos no Estado.

19º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURTAS-METRAGENS
Quando: de amanhã a 29/8
Onde: veja programação completa, salas de exibição e classificação indicativa em www.kinoforum.org/curtas
Quanto: entrada franca



Texto Anterior: Em debate, Marisa destaca "valorização" do passado
Próximo Texto: Ná Ozzetti canta Carmen Miranda
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.