São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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Tradição vende com verniz

da Redação

Comparado com o show de Garth Brooks, no ano passado, o de Alan Jackson ajuda a entender a bifurcação da música country norte-americana.
De um lado, Brooks, a cantora Shania Twain e o grupo The Mavericks são exemplos de quem tenta inserir a teatralidade do rock e outros elementos no country. De outro, os cantores Jackson, George Strait, Clint Black e o grupo Asleep at the Wheel capitaneiam o movimento que defende a pureza do estilo.
Por esse apego às raízes, os músicos desse grupo são chamados de novos tradicionalistas. Jackson não é o líder da corrente, mas é o maior vendedor de discos.
Seus 24 milhões de cópias vendidas são a prova da viabilidade comercial do country com cheiro de estrume de vaca. As características do som produzido pelos novos tradicionalistas aparecem claramente na música de Jackson.
Lá estão a singeleza melódica -tudo é perfeitamente assoviável-, a simplicidade rítmica -acompanhar as batidas é fácil como seguir um "Parabéns pra Você"-, os instrumentos tradicionais e as letras diretas.
Como tudo isso pode soar moderno e sobreviver em pleno final de século? Simples. Para receber o adjetivo "novo", os atuais tradicionalistas varreram dos seus discos a crueza do country original.
Violões, rabecas e steel-guitars (guitarras com sonoridade próxima à da havaiana) aparecem nos álbuns de Jackson da mesma maneira que eram registrados nos anos 40 (por Hank Williams e Bob Wills), nos 50 (por Patsy Cline), nos 60 (por Merle Haggard) e nos 70 (por Willie Nelson).
A diferença é que agora tudo soa límpido e cristalino. Em resumo, músicos como Jackson podem ser tradicionalistas, os produtores dos discos deles, não.
Esses homens são os responsáveis pelo verniz contemporâneo que faz os novos tradicionalistas venderem o que vendem.
Sem eles, Jackson seria um fantasma arrastando correntes nos corredores da modernidade. Com eles, ganha passaporte para fazer avós e netos baterem esporas na mesma pista de dança. (EF)



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