|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Rapper de Niterói, do coletivo Quinto Andar, satiriza a indústria fonográfica e artistas de hip hop
De Leve avança com discurso pesado na contramão do rap
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Todo mundo tá cansado de falsos artistas parecendo bonzinhos", dispara Ramon Moreno,
22. "Todos são modelos a serem
seguidos, não contestam nada, regravam RPM e fica tudo "na moral, na moral, só na moral". Não
dá, né? E ainda querem que eu fique quieto?" Conhecido como De
Leve, Moreno não se limita às críticas ao "sistema", à elite ou à polícia, posicionando-se no extremo
oposto do estereótipo do rap nacional.
Fundador, ao lado do DJ Castro
e do MC Marechal, do coletivo de
hip hop de Niterói Quinto Andar,
De Leve finalmente chega ao primeiro disco após mais de um ano
vivendo como microcelebridade,
entre os universos paralelos e biunívocos da internet e do hip hop
brasileiros. "O Estilo Foda-se"
reúne em versão mais bem acabada os dois primeiros EPs do cantor, lançados em CD-R pela gravadora caseira Tomba Records.
Mas o disco popularizou-se graças à troca de MP3s via internet,
que transformou o MC de Niterói
em "next big thing", na opinião
do rapper Xis e do coletivo paulistano Instituto. Este último quase
lançou o disco de estréia de De Leve por seu selo, após colocá-lo para rimar sobre a faixa-título do
disco "No Flu do Mundo", do
gaúcho Flu.
"Típico playboy branco morador da zona sul, classe média falida", como ele se descreve em uma
de suas letras, De Leve acabou assinando com o produtor Dudu
Marote e é um dos primeiros nomes a serem lançados por seu novo selo, Segundo Mundo. Seu disco de estréia, uma reedição de
seus dois primeiros EPs, abraça
bases de eletrônica e joga mais sujeira no ventilador. A provocação
começa em "Pra Bombar o Seu
Estéreo", que abre o disco oficial
atirando em toda a elite da indústria de discos do Brasil.
Os alvos perfilados pelo disco
são derrubados um a um num
verdadeiro "paredón" verbal. Sobram para as meninas metidas a
besta ("Sem Neurose"), patrões e
empregos formais ("Melancólico
Irônico") e até para o primeiro escalão do rap nacional. Em "Rapper de Mentira" ele lista vícios e
manias do hip hop brasileiro.
Sua atual inspiração é a dupla
nerd Ween, autores de clássicos
do rock alternativo dos anos 90.
"Deboche musical o tempo todo.
Não tem nada de cool e de legal, é
deboche musical, barulhos esdrúxulos e engraçados." Como a dupla, De Leve pretende seguir a carreira em discos temáticos, prevendo um álbum de funk carioca
e outro romântico, mas já prepara
o disco de estréia do Quinto Andar, para o ano que vem. Sobre ser
a bola da vez, diz: "Não sinto tanta
pressão assim, não. Era até para
sentir, mas fico tranquilo. Acham
muito, falam muito, mas continuo do mesmo jeito: ainda lavo
louça, varro o chão, essas coisas",
conclui, rindo.
O ESTILO FODA-SE. Artista: De Leve.
Gravadora: Segundo Mundo. Preço: R$
30, em média.
Texto Anterior: "Prêt-à-Porter"/Crítica: Falsa loira e falsa fútil, Preta Gil treme em palco paulista Próximo Texto: Documentário: Cinema paulista ganha "Em Foco" especial Índice
|