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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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MÚSICA

Rapper de Niterói, do coletivo Quinto Andar, satiriza a indústria fonográfica e artistas de hip hop

De Leve avança com discurso pesado na contramão do rap

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Todo mundo tá cansado de falsos artistas parecendo bonzinhos", dispara Ramon Moreno, 22. "Todos são modelos a serem seguidos, não contestam nada, regravam RPM e fica tudo "na moral, na moral, só na moral". Não dá, né? E ainda querem que eu fique quieto?" Conhecido como De Leve, Moreno não se limita às críticas ao "sistema", à elite ou à polícia, posicionando-se no extremo oposto do estereótipo do rap nacional.
Fundador, ao lado do DJ Castro e do MC Marechal, do coletivo de hip hop de Niterói Quinto Andar, De Leve finalmente chega ao primeiro disco após mais de um ano vivendo como microcelebridade, entre os universos paralelos e biunívocos da internet e do hip hop brasileiros. "O Estilo Foda-se" reúne em versão mais bem acabada os dois primeiros EPs do cantor, lançados em CD-R pela gravadora caseira Tomba Records. Mas o disco popularizou-se graças à troca de MP3s via internet, que transformou o MC de Niterói em "next big thing", na opinião do rapper Xis e do coletivo paulistano Instituto. Este último quase lançou o disco de estréia de De Leve por seu selo, após colocá-lo para rimar sobre a faixa-título do disco "No Flu do Mundo", do gaúcho Flu.
"Típico playboy branco morador da zona sul, classe média falida", como ele se descreve em uma de suas letras, De Leve acabou assinando com o produtor Dudu Marote e é um dos primeiros nomes a serem lançados por seu novo selo, Segundo Mundo. Seu disco de estréia, uma reedição de seus dois primeiros EPs, abraça bases de eletrônica e joga mais sujeira no ventilador. A provocação começa em "Pra Bombar o Seu Estéreo", que abre o disco oficial atirando em toda a elite da indústria de discos do Brasil.
Os alvos perfilados pelo disco são derrubados um a um num verdadeiro "paredón" verbal. Sobram para as meninas metidas a besta ("Sem Neurose"), patrões e empregos formais ("Melancólico Irônico") e até para o primeiro escalão do rap nacional. Em "Rapper de Mentira" ele lista vícios e manias do hip hop brasileiro.
Sua atual inspiração é a dupla nerd Ween, autores de clássicos do rock alternativo dos anos 90. "Deboche musical o tempo todo. Não tem nada de cool e de legal, é deboche musical, barulhos esdrúxulos e engraçados." Como a dupla, De Leve pretende seguir a carreira em discos temáticos, prevendo um álbum de funk carioca e outro romântico, mas já prepara o disco de estréia do Quinto Andar, para o ano que vem. Sobre ser a bola da vez, diz: "Não sinto tanta pressão assim, não. Era até para sentir, mas fico tranquilo. Acham muito, falam muito, mas continuo do mesmo jeito: ainda lavo louça, varro o chão, essas coisas", conclui, rindo.


O ESTILO FODA-SE. Artista: De Leve. Gravadora: Segundo Mundo. Preço: R$ 30, em média.


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