BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Se houvesse um nome, poderia ser algo do estilo "árido movie urbano": é uma cinematografia repleta de néons e concreto, com prédios cruzando os horizontes.
Já em clima de comemorações dos 450 anos de São Paulo, o Canal Brasil exibe o especial "Em Foco", que disseca a produção cinematográfica da cidade.
O programa suscita a seguinte questão: existe uma característica intrínseca desses filmes que configure uma espécie de gênero à parte dentro do cinema brasileiro?
"São Paulo não tem uma cara muito definida, não tem um cartão-postal", diz no documentário o cineasta Guilherme de Almeida Prado ("Perfume de Gardênia"). "Às vezes, parece Nova York, às vezes, Tóquio. Isso permite a criação de várias histórias diferentes."
E são as diferentes possibilidades oferecidas pelo cenário da cidade que vão guiando "Em Foco". Atores como John Herbert e Ilka Soares, por exemplo, contextualizam a Companhia Cinematográfica Vera Cruz como indissociável da paisagem paulista.
Carlos Reichenbach e José Mojica Marins falam sobre o cinema marginal e a Boca do Lixo. "Gente do cinema tinha proteção dos bandidos e da polícia", diz Marins, o Zé do Caixão.
As pornochanchadas também são lembradas pelos diretores e pelo ator Antonio Fagundes. "Apesar de causar escândalos na época, eram filmes, em sua maioria, puros, quase moralistas", diz.
Carla Camurati fala sobre o cinema paulistano dos anos 80, que viu a mudança da "base" dos cineastas da Boca do Lixo para a Vila Madalena, geração que agregava egressos do cinema marginal e estudantes da USP.
O documentário finaliza com a produção dos anos 90. Tata Amaral ("Um Céu de Estrelas") diz que essa leva de diretores teve como uma de suas principais escolas o curta-metragem, que ganhou impulso nos anos 80.
Essas diferentes gerações entendem-se em um ponto comum: o clássico "São Paulo S.A." (65), de Luiz Sérgio Person (1936-1976), é apontado como o filme-síntese e o mais importante da cidade.