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GILBERTO FREYRE
Sociólogo ganha novas leituras de intelectuais; Alfredo Bosi fala da romantização da escravidão
Teoria da democracia racial é debatida
da Redação
É vasta a bibliografia sobre o
processo de miscigenação no Brasil, de Silvio Romero a Capistrano
de Abreu, de Oliveira Viana a Euclides da Cunha. Mas só com Gilberto Freyre deu-se um passo em
direção à moderna antropologia.
No mesmo ano em que Hitler
assumia o poder na Alemanha,
Gilberto Freyre se insurgia contra
as teorias racistas e deterministas
no Brasil, com o lançamento de
"Casa-Grande & Senzala", em
1933. Quanto a esse ponto, os pesquisadores são unânimes.
Ao escrever sobre os intérpretes
do Brasil, Laura de Mello Souza,
professora de história moderna
da USP, afirma: "Talvez só se possa atribuir com justeza o caráter
de precursor a um autor, Gilberto
Freyre, e a uma obra, "Visão do
Paraíso", obra-prima de Sergio
Buarque de Holanda".
Wilson do Nascimento Barbosa, professor de história contemporânea da USP e especialista em
cultura afro-brasileira, compartilha da opinião. "Freyre se distanciou dos conceitos deterministas,
racistas, que viam na mistura de
raças o mal para o país."
Por outro lado, Alfredo Bosi, em
estudo recente, "Dialética da Colonização" (Cia. das Letras), chamou a atenção para a romantização da escravidão em pontos de
Gilberto Freyre. O crítico diz que
não se pode dizer que "o senhor
de engenho despido de preconceitos se misturou fecunda e poligamicamente com as escravas".
Para ele, a tendência portuguesa à
mestiçagem é mais "falocrática"
do que "democrática".
Relido hoje, se Gilberto Freyre
corresponde a esse movimento de
negação da passagem racista, por
outro lado parece ter uma visão
positiva demais dos fatos -para
alguns pesquisadores. Ele vai fazer um "discurso de branco competente e negro competente e de
branco atrasado e de negro atrasado", destacou o professor Barbosa.
"A leitura corresponde na explicação étnica do Brasil àquilo que
Max Weber corresponde na explicação sociológica da Alemanha. Ele nega uma possibilidade
de interpretação marxista, mas
também nega uma possibilidade
de interpretação de extrema direita. Então ele contribui, evidentemente que não sozinho, para a
aporia da democracia racial."
Para o professor, Gilberto Freyre foi um inovador e um conservador. "Enquanto o Brasil não se
livrasse da mancha do negro, não
seria capaz de ser civilizado, pelo
menos dentro dos moldes europeus. Gilberto Freyre quebrou esse preconceito."
Wilson do Nascimento Barbosa
insiste nos anacronismos do livro.
"Ora, é preciso observar que se o
sr. de engenho mantém à força relações sexuais com a mulher que
comprou, como um objeto, isso é
estupro. Essa é uma sociedade de
usurpadores e estupradores, não
houve democracia racial."
A razão para
debates tão
acalorados em
torno do nome
de Gilberto
Freyre estaria
na sua boa capacidade de
articulação:
"Como ele escreve muito
bem, acaba
apresentando
as desvantagens como
vantagens e,
por vezes, convence".
(SHEILA GRECCO)
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