São Paulo, Sábado, 22 de Janeiro de 2000


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POLICIAL
"Essa Maldita Farinha" não empolga, mas diverte

RODOLFO LUCENA
Editor de Informática


"Essa Maldita Farinha" é uma surpresa. O livro de Rubens Figueiredo é apresentado como "noir brasileiro" e faz parte da Coleção Negra, da Record, que tem trazido bons títulos da literatura policial -área em que os escritores brasileiros não têm tradição.
E, se depender de "Essa Maldita...", vão continuar não tendo. O livro pode ser muitas coisas, menos um policial da linha noir, que faz lembrar salas enfumaçadas, loiras curvilíneas, gângsteres charmosos, poderosos e maléficos, e detetives sem igual como Philip Marlowe.
Isso significa que o leitor que busca uma daquelas histórias de crime e suspense que não podem ser largadas antes de o mistério ser resolvido poderá ficar decepcionado. Mas, se estiver de mente aberta, com tempo e disposição, vai encontrar uma história interessante, escrita com estilo bem-humorado e ainda com uma crítica da conjuntura brasileira.
Mais que uma história policial, "Esta Maldita Farinha" é uma paródia engajada do Brasil que todos os dias é estampado nos jornais: traz políticos corruptos, troca de favores, influência do poder econômico nos negócios, seitas religiosas a serviço do dinheiro, empresas estrangeiras contra nacionais e por aí afora.
Pela linguagem, pela galhofa, está mais na linha de um romance juvenil do que na de literatura policial. Enfatizando esse caráter, entre os heróis estão um professor de colegial, sua aluna e os amigos dela.
Sua meta é impedir que a empresa do pai da moça vá à falência, atingida por tramóias e falsidades armadas por um grupo a serviço de uma multinacional. Tentando evitar que a trama seja desvendada, os criminosos, que também haviam arquitetado trapaça semelhante contra outro empreendedor brasileiro, chegam até a matar, além de espancar, perseguir e ameaçar.
Mas contar a história parece menos importante para o autor do que o jeito de contá-la. Rubens Figueiredo burila sua carpintaria literária com carinho, delicia-se em fazer jogos de palavras, em aproveitar a sonoridade de algumas expressões, em manipular o duplo sentido.
Isso, às vezes, incomoda um pouco, traz um ar de literatice, de exagero, de perda de tempo. Mas a história continua, e o leitor, querendo, pode se concentrar nela.
"Essa Maldita Farinha" vem embalada em capítulos bem curtos, quase-contos com histórias que, aparentemente, poderiam terminar ali mesmo, cada um com títulos próprios (bem especiais, como "O Destino É Uma Velha Engasgada" ou "Tem um Bacalhau no Meu Milk-Shake"). Eles são as peças do quebra-cabeça que é a história. Que pode não empolgar, mas diverte.


Avaliação:  


Livro: Essa Maldita Farinha
Autor: Rubens Figueiredo
Editora: Record
Quanto: R$ 25 (260 pág.)


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