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POLICIAL
"Essa Maldita Farinha" não empolga, mas diverte
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática
"Essa Maldita Farinha" é uma surpresa. O livro de
Rubens Figueiredo
é apresentado como "noir brasileiro" e faz parte da Coleção Negra,
da Record, que tem trazido bons
títulos da literatura policial
-área em que os escritores brasileiros não têm tradição.
E, se depender de "Essa Maldita...", vão continuar não tendo. O
livro pode ser muitas coisas, menos um policial da linha noir, que
faz lembrar salas enfumaçadas,
loiras curvilíneas, gângsteres
charmosos, poderosos e maléficos, e detetives sem igual como
Philip Marlowe.
Isso significa que o leitor que
busca uma daquelas histórias de
crime e suspense que não podem
ser largadas antes de o mistério
ser resolvido poderá ficar decepcionado. Mas, se estiver de mente
aberta, com tempo e disposição,
vai encontrar uma história interessante, escrita com estilo bem-humorado e ainda com uma crítica da conjuntura brasileira.
Mais que uma história policial,
"Esta Maldita Farinha" é uma paródia engajada do Brasil que todos os dias é estampado nos jornais: traz políticos corruptos, troca de favores, influência do poder
econômico nos negócios, seitas
religiosas a serviço do dinheiro,
empresas estrangeiras contra nacionais e por aí afora.
Pela linguagem, pela galhofa,
está mais na linha de um romance
juvenil do que na de literatura policial. Enfatizando esse caráter,
entre os heróis estão um professor
de colegial, sua aluna e os amigos
dela.
Sua meta é impedir que a empresa do pai da moça vá à falência,
atingida por tramóias e falsidades
armadas por um grupo a serviço
de uma multinacional. Tentando
evitar que a trama seja desvendada, os criminosos, que também
haviam arquitetado trapaça semelhante contra outro empreendedor brasileiro, chegam até a
matar, além de espancar, perseguir e ameaçar.
Mas contar a história parece
menos importante para o autor
do que o jeito de contá-la. Rubens
Figueiredo burila sua carpintaria
literária com carinho, delicia-se
em fazer jogos de palavras, em
aproveitar a sonoridade de algumas expressões, em manipular o
duplo sentido.
Isso, às vezes, incomoda um
pouco, traz um ar de literatice, de
exagero, de perda de tempo. Mas
a história continua, e o leitor, querendo, pode se concentrar nela.
"Essa Maldita Farinha" vem
embalada em capítulos bem curtos, quase-contos com histórias
que, aparentemente, poderiam
terminar ali mesmo, cada um
com títulos próprios (bem especiais, como "O Destino É Uma
Velha Engasgada" ou "Tem um
Bacalhau no Meu Milk-Shake").
Eles são as peças do quebra-cabeça que é a história. Que pode não
empolgar, mas diverte.
Avaliação:
Livro: Essa Maldita Farinha
Autor: Rubens Figueiredo
Editora: Record
Quanto: R$ 25 (260 pág.)
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