São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 2001

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DANÇA

Exposição homenageia bailarino e coreógrafo

Nijinsky vive em mostra de fotos e figurinos no Museu d'Orsay

INÊS BOGÉA
ESPECIAL PARA A FOLHA

É um sucesso a exposição que homenageia Vaslav Nijinsky (1889-1950), no Museu d'Orsay (Paris) até 18 de fevereiro. Um dos grandes mitos da dança moderna, virtuose que encantava as platéias com sua técnica e expressividade, Nijinsky foi retratado por vários artistas de sua época (de Rodin a Cocteau, passando por Modigliani e Kokoschka).
O empresário Diaghilev, os compositores Stravinski e Debussy, o cenógrafo Léon Bakst: toda uma constelação de talentos gira em torno do bailarino, que acabou a vida precocemente, num hospital para doentes mentais. É um mundo inteiro, que, até certo ponto, inaugura o nosso e que se pode ver, monumental e resumidamente, na exposição.
Bailarino e coreógrafo, Nijinsky estreou em São Petersburgo em 1907. Dois anos depois, participou da primeira turnê dos "Balés Russos" de Diaghilev (1872-1929), deixando extasiados os públicos de Londres e Paris, com as coreografias "Le Pavillon d'Armide" e "Le Festin".
Seu trabalho alteraria definitivamente os rumos da história da dança. Definiu novos parâmetros, pelo rigor técnico, a audácia e a beleza de suas interpretações. Suas coreografias "L'Après-Midi d'un Faune" (música de Debussy, 1912) e "Le Sacre du Printemps" (música de Stravinski, 1913) criaram polêmica, ao subverter os códigos estabelecidos da dança e abrir uma nova via para as coreografias modernas.
A partir de 1918, Nijinsky começa a apresentar sinais de desequilíbrio mental. Vive durante 30 anos em clínicas, até sua morte, em Londres (1950). Meses antes de sua internação, escreve os "Cadernos", nos quais avalia episódios de sua vida e revê suas relações; ali expõe, também, suas idéias sobre a dança, junto com seus medos e aspirações.
A exposição do Museu d'Orsay conta com cinco salas, reunindo fotografias de dança e da vida de Nijinsky, figurinos, estudos de cenário e de movimento, programas e esculturas e desenhos do próprio Nijinsky. Um vídeo registra esforços de recomposição de sua coreografia "L'Après-Midi d'un Faune".
São trabalhos feitos a partir de suas anotações coreográficas e revelam os novos caminhos que ele já desenhava para os corpos no espaço. Em particular, há uma pesquisa de anotação coreográfica por meio da informática, realizada por Armando Menicacci e Simon Hecquet. Para além de seu interesse específico, o vídeo traz à tona muitas questões sobre a possibilidade de transmissão de movimentos da dança.
Fotos de Adolph De Meyer, mostrando Nijinsky em "L'Après-Midi d'un Faune", o traz vivo diante de nós. E os programas dos "Balés Russos" tornam concreta, tangível, a realidade desse tempo, nos nomes amarelados de estrelas da época, como Anna Pavlova e Michel Fokine.
Uma estatueta de Nijinsky, por Rodin, ultrapassa o limite da matéria e nos põe frente a frente com a força do bailarino. Seus próprios desenhos, pelo contrário, ressaltam involuntariamente a fragilidade do homem.
Essa força e essa fragilidade foram grandes o bastante para inventar um mundo. A história desse bailarino e coreógrafo, que foi tudo na vida e acabou com nada, sugere lições de outra ordem e torna a exposição muito mais do que uma simples e fascinante coleção de relíquias da dança.


Inês Bogéa é bailarina do Grupo Corpo

Exposição: Nijinsky
Onde: Museu d'Orsay (Paris)





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