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DANÇA
Exposição homenageia bailarino e coreógrafo
Nijinsky vive em mostra de fotos e figurinos no Museu d'Orsay
INÊS BOGÉA
ESPECIAL PARA A FOLHA
É um sucesso a exposição que
homenageia Vaslav Nijinsky
(1889-1950), no Museu d'Orsay
(Paris) até 18 de fevereiro. Um dos
grandes mitos da dança moderna,
virtuose que encantava as platéias
com sua técnica e expressividade,
Nijinsky foi retratado por vários
artistas de sua época (de Rodin a
Cocteau, passando por Modigliani e Kokoschka).
O empresário Diaghilev, os
compositores Stravinski e Debussy, o cenógrafo Léon Bakst: toda uma constelação de talentos
gira em torno do bailarino, que
acabou a vida precocemente,
num hospital para doentes mentais. É um mundo inteiro, que, até
certo ponto, inaugura o nosso e
que se pode ver, monumental e
resumidamente, na exposição.
Bailarino e coreógrafo, Nijinsky
estreou em São Petersburgo em
1907. Dois anos depois, participou da primeira turnê dos "Balés
Russos" de Diaghilev (1872-1929),
deixando extasiados os públicos
de Londres e Paris, com as coreografias "Le Pavillon d'Armide" e
"Le Festin".
Seu trabalho alteraria definitivamente os rumos da história da
dança. Definiu novos parâmetros,
pelo rigor técnico, a audácia e a
beleza de suas interpretações.
Suas coreografias "L'Après-Midi
d'un Faune" (música de Debussy,
1912) e "Le Sacre du Printemps"
(música de Stravinski, 1913) criaram polêmica, ao subverter os códigos estabelecidos da dança e
abrir uma nova via para as coreografias modernas.
A partir de 1918, Nijinsky começa a apresentar sinais de desequilíbrio mental. Vive durante 30
anos em clínicas, até sua morte,
em Londres (1950). Meses antes
de sua internação, escreve os "Cadernos", nos quais avalia episódios de sua vida e revê suas relações; ali expõe, também, suas
idéias sobre a dança, junto com
seus medos e aspirações.
A exposição do Museu d'Orsay
conta com cinco salas, reunindo
fotografias de dança e da vida de
Nijinsky, figurinos, estudos de cenário e de movimento, programas e esculturas e desenhos do
próprio Nijinsky. Um vídeo registra esforços de recomposição de
sua coreografia "L'Après-Midi
d'un Faune".
São trabalhos feitos a partir de
suas anotações coreográficas e revelam os novos caminhos que ele
já desenhava para os corpos no
espaço. Em particular, há uma
pesquisa de anotação coreográfica por meio da informática, realizada por Armando Menicacci e
Simon Hecquet. Para além de seu
interesse específico, o vídeo traz à
tona muitas questões sobre a possibilidade de transmissão de movimentos da dança.
Fotos de Adolph De Meyer,
mostrando Nijinsky em "L'Après-Midi d'un Faune", o traz vivo diante de nós. E os programas
dos "Balés Russos" tornam concreta, tangível, a realidade desse
tempo, nos nomes amarelados de
estrelas da época, como Anna Pavlova e Michel Fokine.
Uma estatueta de Nijinsky, por
Rodin, ultrapassa o limite da matéria e nos põe frente a frente com
a força do bailarino. Seus próprios desenhos, pelo contrário,
ressaltam involuntariamente a
fragilidade do homem.
Essa força e essa fragilidade foram grandes o bastante para inventar um mundo. A história desse bailarino e coreógrafo, que foi
tudo na vida e acabou com nada,
sugere lições de outra ordem e
torna a exposição muito mais do
que uma simples e fascinante coleção de relíquias da dança.
Inês Bogéa é bailarina do Grupo Corpo
Exposição: Nijinsky
Onde: Museu d'Orsay (Paris)
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