São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997.

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Emissora musical muda de vez seu perfil ao importar o programa norte-americano `The Real World', novelão que mostra a "vida como ela é" de grupo de jovens anônimos; canal brasileiro segue exemplo da matriz dos EUA ao apostar em temas como comportamento e planeja produzir seriados como `Friends' no país
MTV cai na real

Divulgação
Reunião do ``elenco'' do primeiro programa ``Na Real'', gravado em Nova York em 1992 e que será exibido de segunda a sexta às 22h, na MTV


MARIANA SCALZO
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Estréia no dia 3 de março, na MTV Brasil, o programa ``Na Real'' ("The Real World"), que arrebatou hordas de fãs, recebeu muitas críticas nos Estados Unidos e é o principal exemplo da guinada da emissora norte-americana, diminuindo a importância dos videoclipes e aumentando a dos programas de comportamento.
A principal inovação de ``Na Real'' é seu formato. Um grupo de jovens de 20 e poucos anos, cada um de uma cidade e com histórias de vida muito diferentes, vai morar na mesma casa por seis meses.
Eles não se conhecem e geralmente têm opiniões antagônicas em quase todos os assuntos. Para participar do programa -que não tem script nem roteiro-, não interpretam nada, são apenas eles mesmos.
Uma equipe os acompanha praticamente 24 horas por dia filmando o cotidiano da casa. Esse material, editado, é transmitido diariamente e a audiência segue os acontecimentos como em uma novela.
Estereótipo
No filme ``As Patricinhas de Beverly Hills'', a personagem de Alicia Silverstone (Cher), uma garota fútil e vazia, é aficionada por ``Na Real''. Esse é apenas um exemplo da imagem do programa -e de seus espectadores- nos Estados Unidos.
O fato é que, apesar disso, ``Na Real'' foi um dos principais sucessos de audiência da MTV, rendeu quatro continuações e a criação de ``Pé na Tábua'' -exibido na MTV Brasil nas férias de verão de 95/96.
Um dos participantes do primeiro seriado, em Nova York, o pintor gay Norman, foi à imprensa para reclamar de ter sido estereotipado na televisão.
Em entrevista à revista ``Time Out'' de Nova York, disse que foi retratado como um homossexual festivo e que sua seleção teria sido motivada apenas porque ele poderia compor um ``tipo''.
Depois das acusações de estar abandonando seu principal produto -o videoclipe-, a MTV dos EUA resolveu tomar providências e lançou a M2, um canal que pretende resgatar o espírito da época de lançamento da emissora.
A MTV brasileira vai levar ao ar, de março a novembro, sempre de segunda a sexta às 22h, as cinco séries já gravadas de "Na Real" -Nova York, Los Angeles, San Francisco, Londres e Miami (veja quadro abaixo).
Para o diretor de programação da MTV Brasil, Zico Goes, 32, a entrada da série na programação também marca a mudança de perfil da emissora no país.
"Nos últimos anos, `Na Real' não encaixava na nossa grade. Fizemos muitas pesquisas qualitativas. Vamos atender às expectativas do telespectador. A MTV não é só clipes", diz Goes.
Segundo ele, "a novelinha" vai ajudar a fazer a audiência da emissora. "Criar o hábito de ver a TV naquele horário."
O programa será transmitido com legendas, para tentar preservar a qualidade do produto. ``Não tem por que colocar a voz de dubladores conhecidos e identificados com outros personagens num programa como esse. E o mercado de dublagem brasileiro está muito merreca'', afirma Goes.
Outro ponto importante é manter a linguagem característica da MTV, com gírias e palavrões, quando existirem.
Produção nacional
A idéia da MTV Brasil é produzir programas de dramaturgia no próximo ano. Os produtos seguiriam a linha dos seriados cômicos norte-americanos "Seinfeld" e "Friends", exibidos pelo canal de TV paga Sony.
"Hoje em dia ainda é inviável, mas a produção local está crescendo", diz Goes.
"Programas assim são simples, poucos cenários, com diálogos dinâmicos e piadas. As novelas não fazem isso. `A Comédia da Vida Privada' faz um pouco, mas é muito estereotipada."

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