São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 2002

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CINEMA/ESTRÉIAS

A família monstro

Divulgação
Halle Berry em cena de "A Última Ceia"



Marc Forster, diretor de "A Última Ceia", fala sobre chances do filme no Oscar e projetos futuros


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A HOLLYWOOD

"A Última Ceia" (The Monster's Ball, o "baile dos monstros" no título original) é o filme mais sério, mais "de adulto" (no sentido de ser o contrário da média de Hollywood, "de adolescente") a concorrer em alguma categoria no Oscar de domingo.
Concorre logo em duas: atriz (Halle Berry) e roteiro (Milo Addica e Will Rokos), ambas desempenhos mais que merecidos, a primeira com chances reais. O maestro desta orquestra afinada é o suíço Marc Forster, 32. O diretor do filme, que estréia hoje, falou à Folha sobre o que muda na vida a indicação ao Oscar ("Nada", foi a resposta). Leia abaixo.

Folha - Vamos tirar logo o bode do meio da sala: quem você acha que leva o Oscar de melhor atriz e roteiro no domingo?
Marc Forster -
Sissy Spacek e "Gosford Park". Infelizmente, a concorrência é muito boa. Mas nunca o Oscar esteve tão confuso, então não afirmo nada com certeza, tudo pode acontecer.

Folha - E isso realmente importa para você? A indicação mudou algo em sua vida?
Forster -
Na verdade, nada. A única coisa boa é que "A Última Ceia" ficou mais conhecido depois da indicação, e então mais gente está assistindo. E é para isso que você faz um filme, não?

Folha - Como você chegou a este roteiro tão particular?
Forster -
Pouca gente sabe, mas eu tenho um longa anterior, "Everything Put Together", de 2000, que inclusive vai ser finalmente lançado em DVD e vídeo no dia 8 de abril, outra coisa boa da indicação ao Oscar. O filme ficou duas semanas em cartaz, foi um fracasso de público, mas os críticos gostaram, assim como Adam Forgarsh, o produtor. Então, quando ele colocou as mãos no texto de "Monster's Ball", pensou imediatamente em mim.

Folha - Halle Berry não era sua primeira escolha para o papel principal feminino. Por quê?
Forster -
Na verdade, nunca tive uma primeira escolha. Mas não estava certo se ela seguraria o papel, achava Halle muito bonita e glamourosa. Nós nos encontramos duas vezes, por insistência dela, que mostrou tanta convicção e paixão que me convenceu.

Folha - Você está trabalhando em dois filmes agora, não?
Forster -
Sim, o primeiro é "Never Land", uma biografia do criador de "Peter Pan", o escritor e dramaturgo britânico J.M. Barrie. Tento mostrar como ele chegou ao personagem, de onde vinha sua criatividade. Depois, faço "Dallas Buyer's Club". Fala da vida de Ron Woodroof, heterossexual que contraiu Aids em 1980. Ele foi um dos primeiros a aceitar testar drogas novas, não por ser humanitário -na verdade no começo ele era racista e homofóbico- mas para ganhar dinheiro. Depois, virou um dos principais defensores da causa.
A expressão do título, "buyer's club" (clube dos compradores), se refere às farmácias ilegais que vendem drogas contra a Aids ainda em teste e não aprovadas pelo FDA (o órgão fiscalizador da saúde nos EUA) ou contrabandeadas mais baratas de outros países que pagam poucos ou nenhum royalty, como o Brasil.

Folha - Por falar nisso, o que acha de o país não ter sido indicado para o Oscar estrangeiro?
Forster -
Conheço muito pouco do cinema brasileiro, gosto das coisas do Walter Salles e adoro "Orfeu Negro (1959). Vocês consideram o filme brasileiro?

Folha - Franco-brasileiro, sim.
Forster -
Então, adoro, principalmente a trilha sonora.



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