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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA
Leirner mostra procissão de brinquedos
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Nelson Leirner é bizantino.
Monta opulentas procissões
de ícones contemporâneos, fazendo desfilar lado a lado Duchamp, Monalisa, Mondrian e
Mickey Mouse. Prosseguindo no
trabalho acumulativo iniciado em
1965, o artista exibe 28 conjuntos
de imagens numa retrospectiva
dos últimos dez anos, no Instituto
Tomie Ohtake, e uma instalação
na galeria Brito Cimino.
"O Dia em que o Corinthians
Foi Campeão" é o arranjo mais
antigo da retrospectiva, feito originalmente em 1983 e remontado
neste ano. Qual majestoso cortejo,
bonecos da 25 de Março, arrumados por tamanho e tipo, acorrem
estáticos a um campo de futebol.
Na arena desportiva, dois times
de gorilas de plástico defrontam-se sob os olhares de santos.
Nas paredes em volta, estão dispostas a série de mapas adesivados "Assim É se lhe Parece"
(2003) e a série das "Fábulas"
(2004), com cigarras e formigas.
Completa o conjunto um mural
com 48 desenhos de flores em lápis sobre papel (1986-87).
Sala ao lado mostra seleção variada e relevante. Inclui as assemblages "La Gioconda" (1997-2000) e "Monalisas" (1998-99) e
os quadros de pele de boi da série
"Construtivismo Rural", todos temas da Bienal de Veneza, em
1999. Também está o grupo erótico "Trabalhos Feitos Sentado em
uma Cadeira de Balanço (Anne
Gedes)" (1997-98), que foi judicialmente censurado por ocasião
de salão nacional no Rio, em 1998.
Por outro lado, a instalação "Era
uma Vezà", na Brito Cimino, evidencia o processo criativo do artista. Imponente estante exibe coleção de livros e catálogos e alguns
dos mesmos objetos encontrados
nas obras da retrospectiva: a caravela de lata de Coca-Cola, a máscara de macaco maquiado.
Também há itens que parecem
de estimação, como a foto antiga
do "Grande Vidro", de Duchamp.
A parede oposta exibe uma foto
em tamanho real da mesma estante. O piso de carpete de madeira e a pintura rósea da terceira parede da sala completam o conjunto com ares domésticos.
Durante a última década, Nelson Leirner tem participado de
exposições nacionais e representado o Brasil no exterior. A maturidade na reflexão sobre os ícones
da cultura visual globalizada garante humor e equilíbrio.
Contudo a verve combativa e
sarcástica de fases anteriores deu
lugar a uma tranqüila reunião de
jogos e brinquedos. A delicada comemoração do centenário de
nascimento da mãe do artista, a
escultora Felícia Leirner, parece
transbordar para o todo da mostra: um trenzinho cheio de bichos
e santos escala pilhas crescentes
de um mesmo livro, intitulado
"Arte como Missão".
Nelson Leirner
Onde: Instituto Tomie Ohtake (r.
Coropês, 88, tel. 0/xx/11/6844-1900)
Quando: de ter. a dom., das 11h às 20h;
até 11 de julho
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de
Carvalho, 842, tel. 0/xx/11/3842-0634)
Quando: de ter. a sáb., das 11h às 19h;
até 17 de julho
Quanto: ambas com entrada franca
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