São Paulo, sábado, 22 de maio de 2004

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ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA

Leirner mostra procissão de brinquedos

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Nelson Leirner é bizantino. Monta opulentas procissões de ícones contemporâneos, fazendo desfilar lado a lado Duchamp, Monalisa, Mondrian e Mickey Mouse. Prosseguindo no trabalho acumulativo iniciado em 1965, o artista exibe 28 conjuntos de imagens numa retrospectiva dos últimos dez anos, no Instituto Tomie Ohtake, e uma instalação na galeria Brito Cimino.
"O Dia em que o Corinthians Foi Campeão" é o arranjo mais antigo da retrospectiva, feito originalmente em 1983 e remontado neste ano. Qual majestoso cortejo, bonecos da 25 de Março, arrumados por tamanho e tipo, acorrem estáticos a um campo de futebol. Na arena desportiva, dois times de gorilas de plástico defrontam-se sob os olhares de santos.
Nas paredes em volta, estão dispostas a série de mapas adesivados "Assim É se lhe Parece" (2003) e a série das "Fábulas" (2004), com cigarras e formigas. Completa o conjunto um mural com 48 desenhos de flores em lápis sobre papel (1986-87).
Sala ao lado mostra seleção variada e relevante. Inclui as assemblages "La Gioconda" (1997-2000) e "Monalisas" (1998-99) e os quadros de pele de boi da série "Construtivismo Rural", todos temas da Bienal de Veneza, em 1999. Também está o grupo erótico "Trabalhos Feitos Sentado em uma Cadeira de Balanço (Anne Gedes)" (1997-98), que foi judicialmente censurado por ocasião de salão nacional no Rio, em 1998.
Por outro lado, a instalação "Era uma Vezà", na Brito Cimino, evidencia o processo criativo do artista. Imponente estante exibe coleção de livros e catálogos e alguns dos mesmos objetos encontrados nas obras da retrospectiva: a caravela de lata de Coca-Cola, a máscara de macaco maquiado.
Também há itens que parecem de estimação, como a foto antiga do "Grande Vidro", de Duchamp. A parede oposta exibe uma foto em tamanho real da mesma estante. O piso de carpete de madeira e a pintura rósea da terceira parede da sala completam o conjunto com ares domésticos.
Durante a última década, Nelson Leirner tem participado de exposições nacionais e representado o Brasil no exterior. A maturidade na reflexão sobre os ícones da cultura visual globalizada garante humor e equilíbrio.
Contudo a verve combativa e sarcástica de fases anteriores deu lugar a uma tranqüila reunião de jogos e brinquedos. A delicada comemoração do centenário de nascimento da mãe do artista, a escultora Felícia Leirner, parece transbordar para o todo da mostra: um trenzinho cheio de bichos e santos escala pilhas crescentes de um mesmo livro, intitulado "Arte como Missão".


Nelson Leirner
    
Onde: Instituto Tomie Ohtake (r. Coropês, 88, tel. 0/xx/11/6844-1900)
Quando: de ter. a dom., das 11h às 20h; até 11 de julho
Onde: galeria Brito Cimino (r. Gomes de Carvalho, 842, tel. 0/xx/11/3842-0634)
Quando: de ter. a sáb., das 11h às 19h; até 17 de julho
Quanto: ambas com entrada franca



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