São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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PERSONALIDADE

Um dos principais pensadores do pós-guerra, seus trabalhos investigam hermenêutica e fenomenologia

Filósofo francês Paul Ricoeur morre aos 92 anos

DA REDAÇÃO

Morreu na última sexta, aos 92, o filósofo cristão francês Paul Ricoeur, um dos mais importantes pensadores do pós-guerra.
Ele sofria com problemas no coração há vários meses e morreu em sua casa em Chatenay Malabry, na região de Paris, enquanto dormia, segundo disse seu amigo e também filósofo Olivier Abel.
Ricoeur ficou conhecido por seus trabalhos no campo da fenomenologia -estudos de como as percepções humanas definem uma pessoa- e era um dos principais pensadores da hermenêutica (filosofia da interpretação).
Seus numerosos livros, distribuídos num período de meio século, mostram uma forma singular de engajamento nos debates tanto teóricos quanto políticos.
Entre suas obras, que marcaram toda uma geração de filósofos franceses, particularmente Derrida e Lyotar, estão "Teoria da Interpretação" e o monumental "Tempo e Narrativa" (em três volumes), que investiga a fenomenologia do tempo, a historiografia e a teoria literária, desde santo Agostinho até Heidegger.
Nascido em 1913 em Valence (França), Ricoeur ficou órfão cedo e foi educado pelos avós protestantes. Era o herdeiro espiritual da fenomenologia de Husserl e do existencialismo cristão.
Catedrático em filosofia e doutor em letras, tornou-se professor em 1933. Quando a Segunda Guerra estourou, lecionava na França e terminou passando a maior parte do conflito preso num campo de concentração.
Membro do comitê da revista "Esprit" a partir de 1947, começou a publicar seus estudos nos anos 50, particularmente sua tese sobre a filosofia da vontade. Na década de 60, enfocou seus trabalhos na psicanálise freudiana ("Da Interpretação - Ensaio sobre Freud").
Depois de sua demissão em 1970 da Universidade de Nanterre, Ricoeur deu aulas na Universidade de Chicago e foi diretor da "Revista de Metafísica e Moral".
Em novembro de 2004, ele foi agraciado com o Prêmio John W. Kluge, honraria americana que concede US$ 1 milhão para pensadores de ciências humanas. Ele dividiu o dinheiro com o historiador Jaroslav Pelikan.
"Perdemos hoje mais que um filósofo", afirmou o primeiro-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin, em uma nota oficial. "Toda a tradição humanista da Europa está de luto por um de seus mais talentosos interlocutores."
Militante socialista desde 33 e profundamente cristão, Ricoeur era viúvo e pai de cinco filhos. Doente há meses, deixou instruções para que seu funeral fosse limitado a amigos próximos e familiares. A data e o local da cerimônia não foram divulgados.


Com agências internacionais

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