No Paço, Claudia Jaguaribe reúne respostas de quase 3.000 pessoas em instalação; entrada para a mostra é gratuita

Em resposta à pergunta "Você tem medo de quê?", apresentada em um site, pessoas dizem temer a solidão, a morte e avião

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Da pergunta "Você tem medo do quê?", Claudia Jaguaribe constrói um mosaico de aflições urbanas. A questão foi sugerida no site www. vocetemmedodoque.com.br, respondida por quase 3.000 pessoas e, agora, transformada em instalação pronta para visita, no Paço das Artes, a partir de hoje (só para convidados). Os estilhaços de cada resposta, colados nas vozes de seus autores ou de atores, seguem imagens em vídeo colhidas em locais públicos, na rua, em residências. Barata, elevador e avião são alguns dos medos listados. Mas Claudia se vale de um material mais rico, com extensa possibilidade para explorar a intimidade de cada fonte. "Se eu saísse na rua com uma câmera e um microfone, provavelmente não dariam resposta como as que consegui: "Tenho medo de morrer em frente à televisão, segurando o controle remoto'; "Mantenho um casamento com um homem do qual não gosto, porque tenho medo de ficar sozinha'; "...dessas pessoas que te sorriem o tempo inteiro" e "tenho medo de mim". "Solidão" e "morte" são medos comuns, como atesta o que se ouve entre as quatro paredes da sala escurecida do Paço, duas delas utilizadas para a projeção de quatro vídeos. A participação do público na elaboração de uma matéria-prima também norteia uma retrospectiva de Fred Forest no Paço. Desde a década de 70, o francês desenvolve trabalhos de pesquisa midiática: os mais conhecidos são suas inserções em jornais, principalmente de espaços em branco, para o leitor preencher, e performances, como uma passeata em que as pessoas "protestavam" carregando placas em branco. O espectador tem a chance de se expressar, e por isso a semelhança com o trabalho de Cláudia fica nítida, ainda que o discurso dele seja mais midiático e o dela, lírico e intimista.