São Paulo, sexta, 22 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estrela black se vê em papel-título

ADRIANE GRAU
enviada especial a Los Angeles

Símbolo sexual dos filmes do "blaxploitation" dos anos 70, a atriz Pam Grier viu sua carreira inflar e murchar. Em 97, o chamado de Quentin Tarantino para estrelar "Jackie Brown" a tirou do limbo dos pequenos papéis e a colocou de novo no mercado das atrizes mais procuradas.
Pessoalmente Pam Grier é muito mais atraente do que nas telas. Mesmo reclamando por ter começado o dia muito cedo e não ter tido tempo de tomar café da manhã, ela irradia beleza e alto-astral ao conversar com a imprensa internacional pouco antes do lançamento do filme nos EUA.

Folha - Como você se sentiu ao ser escolhida para o papel principal de "Jackie Brown"?
Pam Grier -
Não preciso nem dizer que, com tantas estrelas querendo trabalhar com ele, me senti muito especial ao ser escolhida.
Folha - Este parece ser o ponto alto de sua carreira. Você não chegou a desanimar ao ter que esperar tanto pelo sucesso?
Grier -
Houve uma época em que meu talento foi muito procurado, mas eu não teria a maturidade para interpretar Jackie Brown.
Folha - Será que o público se identifica com uma mulher tão sofrida como Jackie Brown?
Grier -
Acho que o público gosta dela porque ela tem a confiança, a experiencia e o instinto dos anos de desapontamentos e sucessos. Ela tem uma vida completa e usa todos os seus recursos.
Folha - De certa forma, você estaria representando a si mesma?
Grier -
É verdade. Compartilho muitos dos problemas sociais enfrentados por Jackie. Acho incrível que, mesmo Quentin sendo tão privilegiado na indústria cinematográfica, ele tenha conseguido ver isso. Ele sabe que eu passei por vários anos de altos e baixos em minha carreira.
Folha - É verdade que você teve sérios problemas de saúde?
Grier -
Sim. Não quero falar a respeito. Basta dizer que corri risco de vida em 1988, e chegaram a me dar 18 meses de vida.
Folha - Como você se sente ao ter reiniciado sua carreira e até mesmo ter reiniciado a sua vida?
Grier -
Eu me sinto como o coelho daquele comercial de pilhas. Minha energia não acaba nunca, pois tenho paixão por atuar.
Folha - Você acha que o cinema deveria dar mais atenção aos atores negros?
Grier -
Não acho que seja uma questão de raça, e sim de capacidade de gerar bilheteria. O público tem que pagar para ver os filmes, e a parcela mais rica da população são os homens brancos. Eles querem assistir pessoas como Tom Hanks, com quem se identificam.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.