RITA LOBO
Colunista da Folha

Há basicamente dois motivos pelos quais uma pessoa aprende a cozinhar: porque gosta ou porque precisa. Mas gosta especificamente do quê? Talvez do ato em si, por exigir uma boa dose de concentração, tornando-se uma terapia.
Pode ser também pelo prazer das compras, da seleção desde os ingredientes mais básicos aos mais exóticos. Ou apenas como exibicionismo saudável, juntando os amigos que elogiam tanta competência para uma pessoa que "só pratica nos finais de semana".
Há os que cozinham para manter uma tradição. É nos sabores da infância que o ser humano encontra sua preferência, e a partir dessa base é construído o gosto.
Mas o nosso espírito aventureiro não é exceção quando se trata de comida. Conhecer outros povos e introduzir, ou adaptar, seus hábitos alimentares na própria cultura não é novidade.
Não falarei sobre Marco Polo, a China e o macarrão. Mas não é estranho pensar que o tomate só chegou à Europa depois da descoberta das Américas? E a Suíça sem o chocolate, bebida popular dos astecas? E os doces portugueses que só ganharam amêndoas após a invasão dos mouros na Península Ibérica?
Estes intercâmbios, assim como na história, também são comuns no cotidiano. A troca fica ainda mais explícita nas grandes cidades, por onde passam pessoas dos quatro cantos do mundo. A receita de guacamole do estudante mexicano em Nova York que entra para o repertório do colega italiano, que em troca ensina o segredo do molho de tomate da sua região; ou ainda o chutney da mulher indiana que passa a fazer parte do dia-a-dia da família inglesa.
O padrão regional é quebrado e o paladar vai se aprimorando.
Claro que o ideal seria conhecer as diferentes cozinhas do mundo "in loco", ou cozinhando com um nativo.
Mas quando nada disso é possível, nada como uma boa revista de gastronomia para nos transportar para qualquer lugar do mundo. E esse é sem dúvida um dos bons motivos pelos quais cozinhar é tão bom, além de comer, é claro!