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MÚSICA
Cantor se une à mezzo-soprano sueca Anne Sophie van Otter em "For the Stars", disco que reúne Beatles e Abba
Elvis Costello doa tom lírico a universo pop
TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA EM NOVA YORK
O disco "For the Stars" tinha um
enorme desafio pela frente: fazer
um ser humano qualquer se interessar por um projeto em que um
cantor erudito interpreta um repertório de músicas pop menos
de mil anos depois de os três tenores virarem trilha sonora certa das
reuniões mais caretas dos quatro
cantos do mundo.
Graças a Elvis Costello e Anne
Sofie van Otter, isso é possível de
novo. Em "For the Stars", músicas
como "For No One", dos Beatles,
ganham um toque lírico sem perder o charme. Quase todas as músicas são cantadas exclusivamente
pela mezzo-soprano sueca.
No repertório há desde uma
mistura genial de "Broken Bicycles", de Tom Waits, com "Junk",
de Paul McCartney, até a bela gravação de "Like an Angel Passing
Through My Room", do Abba.
Elvis Costello não é um rockstar
como outro qualquer. No lugar de
construir sua carreira repetindo à
exaustão, o que fez seu nome e sua
obra conhecidos foi sua notoriedade em investir em novos projetos. Leia a conversa que ele teve
com a Folha, em Nova York.
Folha - O que as 18 músicas de
"For the Stars" têm em comum?
Elvis Costello - Elas estão no nosso disco! (risos) São as músicas
que nós dois escolhemos, entre a
imensa, enorme, infinita variedade que ouvimos e consideramos.
Além disso, não tenho a menor
idéia. A lista final tem 50% de músicas escolhidas por mim e 50%
por ela, é uma democracia.
Folha - Que música ficou de fora e
você lamentou?
Costello - Às vezes tenho a sensação de que tudo ficou de fora. Passamos por tantas idéias, fazer um
álbum só com anos 50, depois só
com peças da Broadway, só com
Gershwin, só Beatles. E teve um
outro processo, mais complicado,
de um conhecer o outro e apresentar possibilidades. Até que
chegamos a 25 músicas que eram
nossas considerações mais sérias.
Dezoito delas estão no CD.
Folha - Seus últimos discos são
calmos. Cansou do barulho?
Costello - (risos) Não mesmo.
Acho que meu próximo vai ser o
mais barulhento de toda a minha
carreira. Os dois álbuns de sons
mais suaves que fiz foram colaborações, então tive de alongar os
meus interesses e capacidade musical para chegar a um ponto no
qual minha participação era interessante para a pessoa com quem
eu estava colaborando.
Folha - Foi fácil cantar junto?
Costello - Nada. Então, resolvemos cantar de um jeito contrastante, em vez de simultâneo. Canto em resposta ao que ela canta, e
não junto. A única juntos, de fato,
é "For the Stars", em que canto
em um tom bem baixo enquanto
ela alcança um tom bem alto. Foi
o único jeito que conseguimos fazer nossas vozes sobrepostas terem alguma harmonia, como o
último duo do Ricky Martin com
a Christina Aguilera (risos).
Folha - Na lista dos 500 melhores
discos do século 20 que você fez para a revista "Vanity Fair", incluiu
três brasileiros: Tom Jobim, João
Gilberto e Astrud Gilberto. O que
você conhece da MPB?
Costello - Não muito, comparando com o imenso universo que
é a música brasileira. Mas talvez
seja porque nunca tive a oportunidade de tocar no Brasil por conta própria. Fui uma única vez,
parte do Free Jazz Festival.
Consideramos uma música brasileira para gravar no disco, "Insensatez", que é linda. Continuo
curioso com a música brasileira.
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