São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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MÚSICA

Cantor se une à mezzo-soprano sueca Anne Sophie van Otter em "For the Stars", disco que reúne Beatles e Abba

Elvis Costello doa tom lírico a universo pop

TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA EM NOVA YORK

O disco "For the Stars" tinha um enorme desafio pela frente: fazer um ser humano qualquer se interessar por um projeto em que um cantor erudito interpreta um repertório de músicas pop menos de mil anos depois de os três tenores virarem trilha sonora certa das reuniões mais caretas dos quatro cantos do mundo.
Graças a Elvis Costello e Anne Sofie van Otter, isso é possível de novo. Em "For the Stars", músicas como "For No One", dos Beatles, ganham um toque lírico sem perder o charme. Quase todas as músicas são cantadas exclusivamente pela mezzo-soprano sueca.
No repertório há desde uma mistura genial de "Broken Bicycles", de Tom Waits, com "Junk", de Paul McCartney, até a bela gravação de "Like an Angel Passing Through My Room", do Abba.
Elvis Costello não é um rockstar como outro qualquer. No lugar de construir sua carreira repetindo à exaustão, o que fez seu nome e sua obra conhecidos foi sua notoriedade em investir em novos projetos. Leia a conversa que ele teve com a Folha, em Nova York.

Folha - O que as 18 músicas de "For the Stars" têm em comum?
Elvis Costello -
Elas estão no nosso disco! (risos) São as músicas que nós dois escolhemos, entre a imensa, enorme, infinita variedade que ouvimos e consideramos. Além disso, não tenho a menor idéia. A lista final tem 50% de músicas escolhidas por mim e 50% por ela, é uma democracia.

Folha - Que música ficou de fora e você lamentou?
Costello -
Às vezes tenho a sensação de que tudo ficou de fora. Passamos por tantas idéias, fazer um álbum só com anos 50, depois só com peças da Broadway, só com Gershwin, só Beatles. E teve um outro processo, mais complicado, de um conhecer o outro e apresentar possibilidades. Até que chegamos a 25 músicas que eram nossas considerações mais sérias. Dezoito delas estão no CD.

Folha - Seus últimos discos são calmos. Cansou do barulho?
Costello -
(risos) Não mesmo. Acho que meu próximo vai ser o mais barulhento de toda a minha carreira. Os dois álbuns de sons mais suaves que fiz foram colaborações, então tive de alongar os meus interesses e capacidade musical para chegar a um ponto no qual minha participação era interessante para a pessoa com quem eu estava colaborando.

Folha - Foi fácil cantar junto?
Costello -
Nada. Então, resolvemos cantar de um jeito contrastante, em vez de simultâneo. Canto em resposta ao que ela canta, e não junto. A única juntos, de fato, é "For the Stars", em que canto em um tom bem baixo enquanto ela alcança um tom bem alto. Foi o único jeito que conseguimos fazer nossas vozes sobrepostas terem alguma harmonia, como o último duo do Ricky Martin com a Christina Aguilera (risos).

Folha - Na lista dos 500 melhores discos do século 20 que você fez para a revista "Vanity Fair", incluiu três brasileiros: Tom Jobim, João Gilberto e Astrud Gilberto. O que você conhece da MPB?
Costello -
Não muito, comparando com o imenso universo que é a música brasileira. Mas talvez seja porque nunca tive a oportunidade de tocar no Brasil por conta própria. Fui uma única vez, parte do Free Jazz Festival.
Consideramos uma música brasileira para gravar no disco, "Insensatez", que é linda. Continuo curioso com a música brasileira.


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