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LIVROS/LANÇAMENTOS
"BAO CHI, BAO CHI - UM ROMANCE DA GUERRA DO VIETNAM"
Livro romanceia fatos reais ocorridos a jornalistas
Em narrativa, realidade supera ficção
France Presse
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Tanques lança-chamas queimam um vilarejo próximo a Binh Son, na Província de Quang Ngai, em ação da operação Doser, durante a Guerra do Vietnã |
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreram 45 jornalistas
cobrindo a longa Guerra do
Vietnã; 18 foram dados como desaparecidos (ou seja, morreram
também). Quatro deles foram
mortos em maio de 1968 quando
o jipe em que andavam por Saigon (hoje Ho Chi Minh) foi metralhado por guerrilheiros vietcongues. Um outro escapou para
contar a história. As vítimas gritavam "bao chi, bao chi" -"imprensa", "jornalista"-, mas mesmo assim foram mortos. Apenas
um general americano morreu
nessa guerra. Foi acidente.
Nessa mesma época, o jornalista brasileiro Luís Edgar de Andrade estava no Vietnã. O incidente
faz parte desse seu romance sobre
a guerra com fortes traços autobiográficos. Assim como Andrade, o personagem principal, Miguel Arruda, chegou ao então
Vietnã do Sul no final da ofensiva
do Tet, um arriscado lance da
guerrilha comunista e dos seus
aliados do Vietnã do Norte que levou os combates do campo para o
coração das cidades.
Andrade e o alter ego Arruda
também passaram por um dos locais mais perigosos e de maior
simbolismo da guerra: a base
americana em Khe Sanh, próxima
da fronteira entre os dois Vietnãs.
Cerca de 6.000 fuzileiros navais
("marines") americanos estiveram durante mais de três meses
cercados por uma força comunista várias vezes maior. Havia o risco de acontecer com os EUA o
que tinha se passado com a França na década anterior, quando a
guarnição francesa da base cercada de Dien Bien Phu teve que se
render. A derrota marcou o fim
do colonialismo francês na região.
Andrade descreve com realismo
a base sitiada, alvo de foguetes, de
granadas de artilharia e morteiro,
além de estar ao alcance de atiradores de tocaia. Um errinho de revisão compromete a compreensão do drama: na página 94, um
personagem comenta que de janeiro a março de 1968 as colinas
em volta de Khe Sanh receberam
mais bombas do que toda a Inglaterra na Segunda Guerra, "110 toneladas de bombas". Faltou a palavra "mil". O livro felizmente
tem poucos erros do gênero (a
música de Jimi Hendrix é "Foxy
Lady", não "Fox Lady").
Os quatro repórteres mortos
têm seus nomes reais usados no
livro, assim como personagens
conhecidos, como o coronel David Lownds, comandante da base
de Khe Sanh, ou os jornalistas Peter Arnett, e Sean Flynn (também
morto na guerra, era filho do ator
Errol Flynn). Os personagens brasileiros têm nomes que podem
permitir uma fácil identificação.
Por exemplo, o jornalista José Hamilton Ribeiro, da antiga revista
"Realidade", tem o acidente em
que pisou em uma mina descrito
no livro. Só que o personagem se
chama José Airton Rodrigues, e a
revista chama-se "Verdade".
Apesar de não haver nenhuma
invencionice na descrição dos fatos básicos, a opção pelo romance
frustra um pouco quem gostaria
de saber mais sobre o real trabalho de Andrade e seus colegas na
cobertura dessa guerra fundamental do século 20.
Pois esse foi um conflito em que
a realidade superou em muito a
ficção, algo que pode ser resumido em uma frase: "Tivemos de
destruir Ben Tre para salvá-la",
disse em 1968 um major não-identificado ao correspondente
neozelandês Peter Arnett.
Bao Chi, Bao Chi - Um Romance
da Guerra do Vietnam
Autor: Luís Edgar de Andrade
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 29,90 (284 págs.)
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