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"QUEIMADO QUEIMADO, MAS AGORA NOSSO! - TIMOR: DAS CINZAS À LIBERDADE"
Obra conta histórias comuns em meio a dramas absurdos
DA REPORTAGEM LOCAL
Como diz o "Manual da Redação" da Folha, "o jornalista precisa encarar o fato com distanciamento e frieza, o que não
significa apatia nem desinteresse". Essas palavras vêm a calhar
para descrever o livro de Rosely
Forganes sobre Timor Leste.
Pois foi justamente o seu interesse, ou melhor, sua paixão pelo
mais novo país do planeta que fez
ela voltar mais de uma vez ali, experiência agora narrada em livro
e antes nas transmissões para a
rádio Eldorado.
A série radiofônica "Vozes do
Timor", que vem encartada no livro na íntegra, ganhou o Prêmio
Vladimir Herzog de Jornalismo e
Direitos Humanos em 2001.
É uma longa história. Em 75, o
governador português abandona
Dili, capital de Timor Leste, em
meio a uma guerra civil que a vizinha Indonésia, dona da outra metade da ilha, usa como pretexto
para anexar toda ela. Em 98, com
a queda do ditador indonésio Suharto, anuncia-se que Timor Leste terá um referendo para decidir
seu futuro -independência ou
manter a anexação.
Em 4 de setembro a ONU anuncia que a independência teve
78,5% dos votos. Só em 15 de setembro o órgão aprova criação da
força de intervenção. Rosely chega em Dili no começo de outubro,
e já não há mais vagas no hotel
Turismo, queimado, que serve de
quartel-general para a força internacional. Por sorte ela vai parar
em um convento abandonado.
Convivi com Rosely nesses dias,
o que me torna um "personagem"
citado em alguns trechos no livro.
Entrevistamos juntos várias pessoas -como o português José Esteves Serra, então com 70 anos, o
"vovô Serra", ou a fantástica dona
Manuela dos Santos, que teve a
casa queimada e se refugiou no
convento para grande sorte dos
jornalistas, pois era excelente cozinheira. Esse é o maior charme
do livro e das gravações: os diálogos com os timorenses que foram
colhidos no meio de um conflito
brutal.
É fácil de entender a paixão de
Rosely pelo país, que nunca chega
a ser piegas. Os timorenses são de
fato um povo extremamente simpático, com quem os brasileiros
rapidamente ficam à vontade.
"Aos cadáveres, Antônio!", começa um dos capítulos do livro.
Eu mesmo tinha pensado em usar
essa frase em um texto que acabei
não escrevendo. Estávamos em
um carro com jornalistas portugueses, e um deles diz a frase ao
motorista para irmos em busca
dos restos carbonizados de uma
família. O livro mescla bem situações de humor involuntário com
o drama de um país em que cidades foram 70% destruídas.
(RICARDO BONALUME NETO)
Queimado Queimado, mas
Agora Nosso! - Timor: Das
Cinzas à Liberdade
Autora: Rosely Forganes
Editora: Labortexto Editorial
Quanto: R$ 49 (507 págs.)
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