|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
No CCBB, Mostra Sul de Poesia reúne oito hispânicos e cinco brasileiros, em leituras e debates com o público
Encontro ergue pontes na América do Sul
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Hoje é dia, em São Paulo, de vizinhos quase desconhecidos
apertarem as mãos. De um lado, o
público local; de outro, escritores
de língua hispânica (e alguns brasileiros também) -mais que autores, representantes do mais "recluso" dos gêneros: a poesia.
Dissolver as barreiras da língua,
aproximar o Brasil dos países hispano-americanos, erguer pontes
literárias: esses são os objetivos do
encontro desta tarde, que acontece na Mostra Sul de Poesia.
A mostra é organizada por Suzana Vargas, 47, que há cinco
anos promove, em parceria com o
Centro Cultural Banco do Brasil,
encontros de difusão da literatura
latino-americana.
A intenção, conta Vargas
-poeta ela também e uma das
editoras da revista "Poesia Sempre", publicação semestral da Biblioteca Nacional- era reunir, na
edição deste ano do encontro,
poetas de toda a América Latina.
Limites do orçamento, porém,
acabaram indicando a delimitação geográfica: os 13 poetas participantes vêm de países da América do Sul (veja quadro abaixo).
Estabelecidos os confins da seleção, o critério para essa primeira
mostra foi escolher luminares da
poesia de cada país ("Quis começar com uma geração mais estabelecida"), o que reforça o caráter
apresentativo da reunião.
Em segundo lugar, buscou que
os poetas tivessem não só projeção nas literaturas nacionais mas
também que, no conjunto, dessem uma idéia da diversidade
poética do continente.
"Tentei selecionar por linhas de
trabalho", diz. Assim, temos o
"zen-budismo de Hinostroza [representante do Peru", ao lado de
um autor mais clássico, como [o
paraguaio" Elvio Romero, dentro
de uma tradição latino-americana
de poesia com função política social", exemplifica.
A curadora faz questão de reforçar que o encontro não tem caráter de conferência, mas um tom
informal. Os poetas lerão, em três
horários, trechos de sua obra, e
depois estarão abertos a questões
propostas pelo público.
Ainda que a América Latina seja
hoje um "celeiro" literário, como
diz Vargas, é fato que Brasil e
América hispânica se desconhecem mutuamente, exceção feita a
"uns três ou quatro nomes que se
consagraram". A convidada do
Uruguai, Circe Maia -falando à
Folha de Brasília, escala anterior
do evento- faz eco: "Falta comunicação", diz Maia, ressaltando
que "mesmo entre hispânicos,
que falamos a mesma língua".
Nisso também concorda com
Suzana Vargas, para quem a falta
de difusão vai além do problema
das fronteiras: é um mal que acomente, em primeiro lugar, a poesia como gênero e que se expande
para todas as áreas da literatura.
"A poesia não é publicada, ou é
de forma específica. Nem Drummond, na verdade, vende. Muitas
vezes, um poeta tem de sair na Espanha para ser conhecido."
"É inacreditável. A Espanha
vende o poeta do Uruguai para o
Uruguai, o da Colômbia pra a Colômbia. E nem é só com poesia."
Qualquer semelhança com o passado colonial do continente não
terá sido mera coincidência.
Texto Anterior: Petrobras Pró: Música toca Tchaikovski amanhã no Rio Próximo Texto: "Coyote" chega para instaurar "selvageria" Índice
|