São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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LITERATURA

No CCBB, Mostra Sul de Poesia reúne oito hispânicos e cinco brasileiros, em leituras e debates com o público

Encontro ergue pontes na América do Sul

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje é dia, em São Paulo, de vizinhos quase desconhecidos apertarem as mãos. De um lado, o público local; de outro, escritores de língua hispânica (e alguns brasileiros também) -mais que autores, representantes do mais "recluso" dos gêneros: a poesia.
Dissolver as barreiras da língua, aproximar o Brasil dos países hispano-americanos, erguer pontes literárias: esses são os objetivos do encontro desta tarde, que acontece na Mostra Sul de Poesia.
A mostra é organizada por Suzana Vargas, 47, que há cinco anos promove, em parceria com o Centro Cultural Banco do Brasil, encontros de difusão da literatura latino-americana.
A intenção, conta Vargas -poeta ela também e uma das editoras da revista "Poesia Sempre", publicação semestral da Biblioteca Nacional- era reunir, na edição deste ano do encontro, poetas de toda a América Latina.
Limites do orçamento, porém, acabaram indicando a delimitação geográfica: os 13 poetas participantes vêm de países da América do Sul (veja quadro abaixo).
Estabelecidos os confins da seleção, o critério para essa primeira mostra foi escolher luminares da poesia de cada país ("Quis começar com uma geração mais estabelecida"), o que reforça o caráter apresentativo da reunião.
Em segundo lugar, buscou que os poetas tivessem não só projeção nas literaturas nacionais mas também que, no conjunto, dessem uma idéia da diversidade poética do continente.
"Tentei selecionar por linhas de trabalho", diz. Assim, temos o "zen-budismo de Hinostroza [representante do Peru", ao lado de um autor mais clássico, como [o paraguaio" Elvio Romero, dentro de uma tradição latino-americana de poesia com função política social", exemplifica.
A curadora faz questão de reforçar que o encontro não tem caráter de conferência, mas um tom informal. Os poetas lerão, em três horários, trechos de sua obra, e depois estarão abertos a questões propostas pelo público.
Ainda que a América Latina seja hoje um "celeiro" literário, como diz Vargas, é fato que Brasil e América hispânica se desconhecem mutuamente, exceção feita a "uns três ou quatro nomes que se consagraram". A convidada do Uruguai, Circe Maia -falando à Folha de Brasília, escala anterior do evento- faz eco: "Falta comunicação", diz Maia, ressaltando que "mesmo entre hispânicos, que falamos a mesma língua".
Nisso também concorda com Suzana Vargas, para quem a falta de difusão vai além do problema das fronteiras: é um mal que acomente, em primeiro lugar, a poesia como gênero e que se expande para todas as áreas da literatura.
"A poesia não é publicada, ou é de forma específica. Nem Drummond, na verdade, vende. Muitas vezes, um poeta tem de sair na Espanha para ser conhecido."
"É inacreditável. A Espanha vende o poeta do Uruguai para o Uruguai, o da Colômbia pra a Colômbia. E nem é só com poesia." Qualquer semelhança com o passado colonial do continente não terá sido mera coincidência.



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