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Mostra inclui clássicos e único roteiro de Beckett
CRÍTICO DA FOLHA
Samuel Beckett, o dramaturgo
irlandês, escreveu o roteiro inspirado na fórmula doutrinária do filósofo George Berkeley: "Esse est
percipi" (ser é ser percebido). A
direção coube ao amigo Alan
Schneider, que morreria atropelado 20 anos depois, ao cruzar a rua
para postar carta a Beckett.
"Filme" (1965) é outra raridade
da mostra. Um homem sem rosto
se depara, em seu quarto, com os
vestígios de seu passado. Rasga as
ilustrações da parede, as fotos da
família, põe os animais para fora,
cobre o espelho, livra-se dos olhos
de Deus e do mundo, mas continua preso à percepção de si mesmo. É o rosto de Buster Keaton
que se desvela então. Na figura
cansada do velho cômico do cinema mudo, em sua silenciosa e
moribunda pantomima, o universo beckettiano encontra sua
perfeita encarnação fílmica.
Outro destaque é "A Grande
Garganta" (1901), uma das primeiras experiências de auto-reflexividade da história. Contrariado,
um passante se aproxima da câmera até engoli-la em primeiro
plano. No clássico do gênero "Um
Homem com uma Câmera"
(1929), Vertov revela a atividade
cinematográfica como mais um
ramo da produção industrial, justaposta ao mundo do trabalho.
Em "O Desprezo", Godard fala
sobre um casal e um filme que se
desfazem, mas é, no fundo, sobre
sua prostituição de artista. Em
"Oito e Meio", Fellini faz de sua
crise criativa o manancial para
uma obra-prima. Em "O Instante
de Inocência", Mohsen Makhmalbaf dá continuidade à virada
auto-reflexiva do cinema iraniano, iniciada pela história do seu
sósia no "Close Up", de Abbas
Kiarostami.
(TMM)
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