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Com boa oferta de filmes mudos, CCSP relembra festival de 1954
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Em 1954, ano do Quarto Centenário, aconteceu em São Paulo o
Festival de Cinema de São Paulo,
um evento que, à parte trazer ao
Brasil nomes tão ilustres e diversos como André Bazin e Edward
G. Robinson, abriu um território
imenso à cinefilia nacional, tão
vasto era o seu repertório.
A partir de hoje, e até 4 de julho,
o Centro Cultural São Paulo retoma esse festival, que trouxe até
nós quase todas as mais sólidas
tradições cinematográficas do século 20.
A parte de cinema mudo é, de
longe, a mais forte. Lá estão o italiano "Cabíria" (1914), de Pastrone, o americano "O Nascimento
de uma Nação" (1915), de D.W.
Griffith, o francês "Napoleão"
(1925), de Abel Gance, o sueco "O
Vento" (1928), de Victor Sjostrom, o alemão "O Gabinete das
Figuras de Cera" (1924), de Paul
Leni -sem falar de outros que
podem ser encontrados em DVD,
como Eisenstein e Pudovkin.
O mais interessante, no entanto,
talvez seja a série de três filmes de
Erich von Stroheim: "Esposas Tolas" (1921), "Queen Kelly" (1929) e
"Ouro e Maldição" (1924). Poderemos ver, portanto, três momentos de Stroheim.
Em "Esposas Tolas", é quando
ele tem plenos poderes e é o grande diretor da Universal, introduzindo o naturalismo cinematográfico e tornando fora de moda o
estilo de Griffith.
"Ouro e Maldição" é o filme que
a MGM reduziu de sete para duas
horas, afirmando o poder do estúdio e dos produtores à custa do
seu principal diretor. Não obstante, o filme permanece uma obra-prima (na Mostra de Cinema de
São Paulo, há poucos anos, foi
mostrado em uma versão que reconstitui aproximadamente o que
teria sido a montagem de quatro
horas feita por Stroheim e recusada pelo estúdio).
Já "Queen Kelly" é o filme inacabado de um cineasta já maldito.
Nem por isso menos notável.
O Brasil
A sessão brasileira da mostra do
CCSP também é notável. Ao lado
de "Ganga Bruta" (1933) e alguns
outros Humberto Mauro que se
pode encontrar em DVD, será
possível ver raridades como "O
Segredo do Corcunda" (1925), de
Alberto Traversa e "O Caçador de
Diamantes" (1933), de Vittorio
Capellaro (fraco, mas de valor antropológico), sem falar de "Limite" (1931), de Mário Peixoto.
A parte sonora da mostra é bem
menos fascinante, mas ainda assim traz, entre outros, "A Grande
Ilusão" (1937), de Jean Renoir,
"Cinco Covas no Egito" (1943) e
"Crepúsculo dos Deuses" (1950),
ambos de Billy Wilder. No setor
nacional, uma série de filmes da
época, de "O Cangaceiro", de Lima Barreto, a "Simão, o Caolho",
de Alberto Cavalcanti.
Apesar de a sala de cinema do
CCSP não lembrar em nada o antigo cine Marrocos -sede do festival de 1954 e, na época, uma das
salas mais sofisticadas do país- e
de uma parte dos filmes chegar
em suporte digital, esta é uma
oportunidade preciosa para reencontrar uma belo repertório de
filmes clássicos. E, talvez, de relançar a cinefilia paulista.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE
CINEMA DE 1954. Onde: CCSP (r.
Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 3277-3611). Quando: de hoje a 4/7. Quanto:
grátis.
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