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"Times" sai em defesa de jovem mago
DA REDAÇÃO
Depois de o "Monde" abrir espaço para um artigo que atacava a
obra "capitalista anglo-saxônica"
da inglesa J.K. Rowling, o "Times"
londrino partiu para a defesa de
sua conterrânea no último sábado, com um artigo de Ben Macintyre que reaviva a polêmica
cultural entre os países.
"Prosa pomposa", "involuntariamente hilariante, virtualmente
incompreensível e perfeitamente
inútil" são exemplos do bombardeio que o artigo do jornal inglês
faz contra o do "Monde".
Usando da conhecida ironia inglesa, Macintyre pontua seu texto
com expressões francesas para
atacar o intelectualismo que, segundo escreve, manteve a tradição de enxergar muita coisa onde
não há nada. "Como Freud disse,
às vezes um charuto é apenas um
charuto. Às vezes um livro infantil
é apenas para crianças."
O inglês usa o argumento de
que a crítica francesa estaria colocando chifre em cabeça de burro
para defender a pátria e a obra: o
ataque se daria porque o sucesso
da obra é tão grande que adultos
estão lendo textos infantis e transferindo para ele suas neuroses.
"Que os adultos se sentem obrigados a encontrar nos livros de
Rowling algo mais do que eles
aparentemente oferecem, é um sinal do sucesso sem precedentes
de Harry Potter e das raízes que a
série fincou em nossa cultura",
diz o autor.
Macintyre faz uma distinção entre os tipos de obra para crianças.
"Alguns livros infantis são dignos
de status semelhante ao da literatura adulta. Uns poucos talvez até
mereçam análise de texto mais
profunda. Mas isso não se aplica à
maioria deles."
Exemplificando sua argumentação, ele cita "Alice no País das
Maravilhas" ("um conto de fadas
surreal, mas também uma paródia sobre a injustiça") e "O Senhor dos Anéis" ("é sobre a corrupção do poder"), e coloca o
bruxo no lugar que julga adequado: "Os livros de Harry Potter oferecem pouco em termos de complexidade psicológica ou moral.
Não se trata de uma alegoria sobre a nossa era, mas de histórias
simples e bem escritas, a serem lidas por ou para as crianças. Ao
pretender que Harry Potter tenha
algo a dizer aos adultos, prestamos à série e à literatura em geral
um profundo desserviço."
Macintyre classifica o intelectualismo francês acerca da literatura de "teorização pseudo-erudita", que não conseguiria distinguir "entretenimento infantil de
estímulo intelectual adulto".
"Quando acadêmicos, lingüistas,
analistas, adversários do racismo,
jungianos, freudianos, jung-freudianos, sociólogos, advogados, filósofos, psicólogos e críticos literários começam a se juntar em
torno de um livro infantil, é hora
de deixar de ler nas entrelinhas."
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