São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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"Times" sai em defesa de jovem mago

DA REDAÇÃO

Depois de o "Monde" abrir espaço para um artigo que atacava a obra "capitalista anglo-saxônica" da inglesa J.K. Rowling, o "Times" londrino partiu para a defesa de sua conterrânea no último sábado, com um artigo de Ben Macintyre que reaviva a polêmica cultural entre os países.
"Prosa pomposa", "involuntariamente hilariante, virtualmente incompreensível e perfeitamente inútil" são exemplos do bombardeio que o artigo do jornal inglês faz contra o do "Monde".
Usando da conhecida ironia inglesa, Macintyre pontua seu texto com expressões francesas para atacar o intelectualismo que, segundo escreve, manteve a tradição de enxergar muita coisa onde não há nada. "Como Freud disse, às vezes um charuto é apenas um charuto. Às vezes um livro infantil é apenas para crianças."
O inglês usa o argumento de que a crítica francesa estaria colocando chifre em cabeça de burro para defender a pátria e a obra: o ataque se daria porque o sucesso da obra é tão grande que adultos estão lendo textos infantis e transferindo para ele suas neuroses.
"Que os adultos se sentem obrigados a encontrar nos livros de Rowling algo mais do que eles aparentemente oferecem, é um sinal do sucesso sem precedentes de Harry Potter e das raízes que a série fincou em nossa cultura", diz o autor.
Macintyre faz uma distinção entre os tipos de obra para crianças. "Alguns livros infantis são dignos de status semelhante ao da literatura adulta. Uns poucos talvez até mereçam análise de texto mais profunda. Mas isso não se aplica à maioria deles."
Exemplificando sua argumentação, ele cita "Alice no País das Maravilhas" ("um conto de fadas surreal, mas também uma paródia sobre a injustiça") e "O Senhor dos Anéis" ("é sobre a corrupção do poder"), e coloca o bruxo no lugar que julga adequado: "Os livros de Harry Potter oferecem pouco em termos de complexidade psicológica ou moral. Não se trata de uma alegoria sobre a nossa era, mas de histórias simples e bem escritas, a serem lidas por ou para as crianças. Ao pretender que Harry Potter tenha algo a dizer aos adultos, prestamos à série e à literatura em geral um profundo desserviço."
Macintyre classifica o intelectualismo francês acerca da literatura de "teorização pseudo-erudita", que não conseguiria distinguir "entretenimento infantil de estímulo intelectual adulto". "Quando acadêmicos, lingüistas, analistas, adversários do racismo, jungianos, freudianos, jung-freudianos, sociólogos, advogados, filósofos, psicólogos e críticos literários começam a se juntar em torno de um livro infantil, é hora de deixar de ler nas entrelinhas."


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