|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GASTRONOMIA
LIVRO
Socióloga Rosa Belluzo visita culinárias do México, de Cuba e da Martinica
Obra apresenta histórico de cozinhas da América Latina
DO COLUNISTA DA FOLHA
Não é difícil encontrar nas livrarias brasileiras livros sobre a cozinha de países europeus como a
França e Itália, ou asiáticos como
o Japão e a China. Mas como o
Brasil tem o vício de olhar mais
para além-mar do que para seus
vizinhos de parede, muito pouco
se divulga a cozinha do nosso
continente. Agora isso fica mais
fácil com o lançamento do livro
"Os Sabores da América", de Rosa Belluzo, que, mesmo sem ser
extensivo, lança o olhar sobre a
história e a culinária do México e
de três "jóias" do Caribe: Cuba,
Jamaica e Martinica.
Co-autora de "A Cozinha dos
Imigrantes" e "Doces Sabores", a
socióloga Belluzzo desta vez sai
do território brasileiro para descortinar a formação dos paladares
atuais de uma região há cinco séculos bombardeada por influências de colonizadores.
O México tem um caráter à parte. Berço de uma sólida cultura
pré-colombiana, foi onde os sabores da América mais mantiveram suas características originais,
plantadas pelos povos maias e astecas. A pujança destas tradições
era vista já na chegada dos conquistadores espanhóis. Quando
Hernán Cortés ali desembarcou
em 1519, recebido pelo imperador
Montezuma 2, "o que mais chamou a atenção dos invasores foi o
mercado de Tlatelolco (...), com
mais de 5.000 barracas permanentes, por onde transitavam diariamente cerca de 60 mil pessoas
entre compradores e vendedores", deixando no chinelo mercados pujantes como o de Constantinopla e Veneza.
Os banquetes do imperador tinham mais de 300 pratos com ingredientes desconhecidos dos europeus (tomates e pimentões recheado, rãs condimentadas com
pimenta chile, peixes das costas
mexicanas, aves e caças com molhos de frutas, e o chocolate espumante, servido com baunilha em
taças de ouro). Recepcionado como um deus, Cortés logo iniciaria
a conquista predatória, até a capitulação em 1521, que marcou o
fim do império asteca.
O império se foi, mas seus ingredientes e outros produtos nativos
da América (o peru, o milho, a batata) passaram a influenciar enormemente a dieta do velho mundo.
Já as ilhas do Caribe abordadas
no livro têm uma cozinha mais
miscigenada. Em Cuba ela é produto das influências espanhola e
africana, combinada com ingredientes nativos. Trazidos pelos espanhóis, o trigo, as carnes de porco e boi, o frango e muitas hortaliças foram incorporados aos hábitos locais, bem como os cozidos
descendentes da olla podrida espanhola, e o uso do arroz no cotidiano, freqüentemente combinado ao feijão (este, americano).
Na Jamaica as influências são
inglesas e africanas, mas também
recebe pitadas indianas, tudo
condimentado com ingredientes
como pescados, frutas e a pimenta-da-Jamaica. Na Martinica as
especiarias indianas também estão presentes, mas aqui os produtos locais sofreram influências sobretudo dos franceses e africanos.
Um mapa com informações de
época ajudaria o leitor a acompanhar os movimentos históricos
descritos no livro, que, por outro
lado, traz uma seção com fotos e
reproduções iconográficas, além
de um grande número de receitas
dos quatro países abordados.
JOSIMAR MELO
OS SABORES DA AMÉRICA. De: Rosa
Belluzzo. Editora: Senac São Paulo. 184
páginas. Quanto: R$ 35.
Texto Anterior: Artigo: Harry no país do mercado triunfante Próximo Texto: Mundo gourmet: Com novo chef, Pallazzo Grimaldi mira para o mar Índice
|