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CRÍTICA
Furtado retrata isolamento urbano
especial para a Folha, em Gramado
É curiosa a trajetória do cineasta
gaúcho Jorge Furtado. Depois de
projetar-se internacionalmente
com o curta ensaístico "Ilha das
Flores" (1989), deixou que outros
repetissem sua fórmula à exaustão
e partiu para outra coisa: a experimentação de novas estruturas narrativas.
"Angelo Anda Sumido", que
passa hoje no Festival de Curtas de
São Paulo, é mais um passo nesse
caminho, que inclui a experiência
do cineasta como roteirista e diretor de programas da Rede Globo,
sobretudo da "Comédia da Vida
Privada".
No novo curta, Furtado parte de
uma situação banal -um jovem
sai de casa pensando em jantar
com um amigo- para traçar um
retrato expressivo do que é a vida
hoje nas grandes cidades brasileiras: um emaranhado de grades, de
ruas sinistras em que não convém
passar, de hostilidades difusas e
medo generalizado.
Há uma tensão surda entre o que
entra no filme como se fosse por
acaso -o lixo na rua, os mendigos, a conversa disparatada de
porteiros e taxistas, a deterioração
urbana- e a trajetória individualista e banal do protagonista, que
só pretende comer e voltar para a
sua casa.
Diante desse objetivo primordial
-enunciado já na primeira fala,
em "off"-, o "outro" (seja ele o
porteiro, os mendigos, o taxista, o
vigia, e até mesmo o seu amigo Angelo) é apenas um empecilho do
qual o protagonista precisa se livrar.
Se extrai toda a sua força desse
confronto entre o casulo individual e a realidade hostil do espaço
outrora público, Jorge Furtado investe numa opção ousada e quase
suicida de final: a ausência de desfecho, como demonstração do
teorema de que o "outro" só estorva o protagonista.
A odisséia urbana termina quando este come um prosaico cachorro-quente.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
Mostra: 8º Festival Internacional de
Curta-metragens
Onde: Museu da Imagem e do Som (av.
Europa, 158, Jardim Europa, tel.
011/280-0896)
Quando: hoje, a partir das 18h
Quanto: grátis
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