São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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Família de proprietários recusa tentativas de mudar perfil

da Sucursal do Rio

Nos idos de 1921, o Íris era o "ponto de encontro da elite da nossa sociedade", de acordo com o Annuario Theatral Argentino-Brasileiro publicado naquele ano.
"Mudou muito, minha filha, mas tivemos de acompanhar os novos tempos", diz Nylza Cruz de Rezende, 71, neta do fundador do cinema.
Nylza costumava frequentar o cinema com o avô João Cruz Júnior.
Gostava muito de ver os filmes dos Irmãos Marx e da dupla O Gordo e O Magro. "Eu ia muito quando tinha outro tipo de filme", relembra.
A mudança do cinema, no entanto, não espantou Nylza. "Continuo indo lá toda semana para ver se está tudo bem. Só não vejo os filmes, que não tenho mais idade para isso", explica.
Nylza diz que vai toda sexta-feira ao cinema e fica lá das 9h às 15h -sai pouco antes do início do primeiro show diário de striptease, a única coisa com hora certa para começar no cinema.
"As sessões não têm hora certa. O pessoal que vem aqui não fica muito tempo, fica 10, 20 minutos e vai embora. Mas na hora do striptease, se estiver passando um filme a gente interrompe. Depois continua", conta Roberto Cruz, bisneto do fundador do cine Íris e diretor do cinema.
A transformação do Íris em ponto de encontro dos "modernos" cariocas aconteceu a partir do início do ano. A produtora cultural Carla Tavares achou que o local seria ideal para festas que pudessem reunir até mil pessoas em vários ambientes.
O prédio do Íris tem quatro andares, dos quais três ficam fechados durante a semana -uma espécie de medida "moralizadora" tomada pelos donos do cinema para tentar reduzir a frequência de travestis e garotas de programa em busca de clientes.
Originalmente, sua capacidade era para 1.600 pessoas -hoje, para 370 nas sessões de cinema. Nas festas, os outros andares são abertos. Em cada um deles há uma ambientação e um tipo de música.
"O que nós queríamos era ter uma programação cultural mais constante aqui, exibir outro tipo de filmes durante a semana, promover happy hours, enfim, mudar todo o perfil do Íris, mas a família não quer mudar o esquema de funcionamento", diz Carla Tavares.
"Acho muito legal essa novidade aqui, mas já tentaram muitas coisas que não deram certo. Não vou abandonar meu público", afirma Cruz.


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