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"WIMBLEDON"
Diálogo de gêneros é sedutor em filme-produto com sotaque inglês
CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O truque de "Wimbledon" é
transformar um ambiente
real e público (célebre torneio de
tênis) em fantasia. E há muita graça nessa operação. Porque, para
realizá-la, o filme se infiltrará na
intimidade da instituição: o hotel
dos jogadores, os treinos melancólicos de um tenista decadente,
Peter Colt, e as quadras, aquelas
menos luxuosas, escondidas na
paisagem verde do imenso jardim
em que se realiza a competição.
O tom preponderante é o da fábula, na paixão entre Colt e a ninfeta top ten. O diretor britânico
Richard Loncraine se servirá bem
desse tom, mas a fantasia ele irá
captar, ironicamente, na desmistificação das imagens sagradas de
glamour que enfeitam a grife esportiva londrina. Há algo de ordinário sobre Wimbledon, o evento, aqui.
Esse truque vai nos colocar dentro de uma "festa" da qual desejamos participar. Mas o grande barato é ver o filme brincar com a
linguagem cinematográfica em
sua face industrial. Pois o que se
revela é um exercício, dos mais
afiados, em manipulação de gêneros. Dois, na verdade.
Um é a comédia romântica inglesa moderna, essa coisa elegante
e fofa, embrulhada para presente
em caixa e papel encantadores. O
outro é o "filme de esporte" americano tradicional, essa história
do cara (ou time) desacreditado
ou obsoleto que começa ignorado, ganha confiança fase a fase e
chega à final do campeonato. Os
dois gêneros vão se contaminando, se colorindo e, mais interessante, se trapaceando ao longo do
filme. É mar aberto para jogar
com o cinema, e Loncraine aproveita bem.
Além disso, na esfera da comédia romântica, o filme filia-se a
uma tendência conservadora que,
no gênero, troca o ideal jovem e
idílico do namoro pelo da conquista direta do casamento: provável vacina para a efemeridade
afetiva e a frieza do tempo da eficiência, dos resultados e da plastificação das coisas.
Tempo, no mais, em que o sofisticado funcionamento do mercado depende muito desse grande
departamento de sonhos e marcas que é o mundo esportivo espetacular, que não separa ou salva
os envolvidos de seus próprios espectros, impressos em veículos de
mídia ou incensados pelos holofotes.
Claro que há uma contradição,
por ser esse tipo de cinema também uma arte sintética -basta
ver o tratamento visual que as locações recebem-, do resultado.
Contradição que, no final das
contas, faz do filme um artigo
mais sedutor.
Wimbledon - Jogo de Amor
Wimbledon
Direção: Richard Loncraine
Produção: EUA, 2004
Com: Paul Bettany, Kirsten Dunst,
Eleanor Bron, Karl Hyde, Robert Lindsay e
Penny Ryder
Quando: a partir de hoje nos cines
Iguatemi, Kinoplex Itaim, Tamboré e
circuito
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