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50 anos da morte de Oswald de Andrade
Modernista é homenageado com dança, teatro, cinema e textos inéditos, em oito centros culturais
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando Oswald de Andrade
morreu, em um 22 de outubro como este, os jornais lhe alocaram
em um escanteio de suas páginas.
Desprestigiado há tempos, perdeu de confortável goleada no noticiário para a cobertura da semifinal do concurso de beleza Miss
Elegante Bangu.
No bocadinho que lhe coube de
papel jornal, dois dias depois, ali
estava Di Cavalcanti bradando na
beira do túmulo do escritor, no
cemitério da Consolação, que o
"natural anarquismo" de Oswald
ainda daria uma grande banana
para os que o deixaram de lado.
Hoje tem bananada? Tem sim
senhor. No dia em que se completam 50 anos da morte do modernista (1890-1954), sua trajetória
vai ser lembrada com eventos em
seis espaços de São Paulo.
Os "banquetes antropofágicos",
que começaram ontem, com a
exibição do filme "O Rei da Vela"
no Cinesesc (o sétimo centro cultural), se estendem até o dia 6 de
novembro. Nessa sua apoteose,
na Pinacoteca do Estado (oitavo
espaço), serão lançados dois livros: a reedição do romance "Memórias Sentimentais de João Miramar" e, rufem os tambores, um
volume de textos inéditos.
O lançamento de "Feira das
Sextas", coletânea de crônicas garimpadas pela pesquisadora Gênese Andrade, deverá ter a participação de
um dos pilares históricos do "oswaldandradismo".
O crítico Antonio Candido, que
coordenou o primeiro projeto de
edição sistemática das obras de
Oswald, dividirá a mesa com o
professor Jorge Schwartz (que
coordena a atual reedição de todos os livros do modernista) e a
biógrafa Maria Augusta Fonseca.
Outro "oswaldiano" emérito,
porém, é a estrela do dia de "desaniversário". O diretor, ator e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa abre a festa com a "aula-espetáculo" "Ritual Antropofágico",
na Casa do Saber. A sua "Devoração de Oswald de Andrade" segue
no teatro Oficina, das 21h ao tombar do último antropófago.
Diretor da montagem teatral
mais importante de uma obra do
modernista, a clássica encenação
de "O Rei da Vela", de 1967, Zé
Celso deverá anunciar durante o
evento "uma de suas maiores
conquistas até hoje".
"Há 25 anos nós do Oficina lutamos pela construção de um Teatro de Estádio, como queria Oswald. Agora finalmente ele vai sair
do papel", afirma.
Sairá do papel também nesta
tarde, pela primeira vez, uma homenagem "caseira" ao escritor de
"Pau Brasil". Uma de suas filhas, a
coreógrafa e professora Marilia de
Andrade, apresentará na Oficina
Cultural Oswald de Andrade a estréia de "O Corsário e o Porto".
A coreografia, um dueto, é inspirada em um poema feito para
sua mãe, Maria Antonieta D'Alkmin, por Oswald. "O Corsário"
ilustra minha lembrança mais
forte dos dois, a de uma relação de
enorme e mútua dependência",
diz a coreógrafa.
Marília de Andrade tinha "quase nove anos" quando Oswald
morreu. Ela conta que no dia 22
de outubro de 1954 estava saindo
para a escola quando o pai a chamou para dar um "beijo". "Eu
tentei escapar. Tinha medo dele.
Oswald estava muito deprimido,
totalmente marginalizado."
Professora da Unicamp, onde
está depositado o arquivo do modernista, ela afirma que nunca viu
tanto interesse pela obra do pai
como agora.
"Acho que a obra de Oswald está madura para ser lida pela sociedade. Ou melhor, a sociedade está
madura para ler Oswald. Ele sempre esteve muito na frente."
Um dos maiores especialistas
na obra do escritor, o professor da
USP e da Johns Hopkins University (EUA) Jorge Schwartz concorda: "O interesse por Oswald
está crescendo em progressão
geométrica".
Chegou o dia de realizar a famosa projeção do escritor, de que a
massa um dia comeria seus biscoitos finos? "Sim e não", responde Schwartz. "A massa já absorve
de alguma forma Oswald, que foi
até personagem de uma minissérie da Globo, mas ele nunca vai ser
um Paulo Coelho", brinca.
Uma coisa não se discute, entretanto. Com todo o respeito, após
50 anos Oswald está bem mais em
forma do que qualquer candidata
do Miss Elegante Bangu.
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