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CINEMA/ESTRÉIA
"FULL FRONTAL"
Soderbergh reforça estilo instigante
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Você vai gostar muito de
"Full Frontal", experimento
cinematográfico de Steven Soderbergh que estréia hoje no Brasil,
ou odiá-lo; dificilmente sairá do
cinema indiferente, o que já é
mais do que se pode falar sobre
90% das bobagens que Hollywood nos empurra goela abaixo.
Feito em película e digital, dependendo da história retratada
no momento, é na verdade um
metafilme e foi realizado em 18
dias seguindo regras peculiares
do diretor, à Dogma 95: apesar de
contar com um elenco estelar (Julia Roberts, Brad Pitt, David Duchovny), nenhum ator teria direito a trailer, maquiador, cabeleireiro, assessor e motorista.
Todos deveriam se produzir sozinhos em casa e chegar ao set de
filmagem por conta própria. Receberiam seus textos na hora e
não poderiam decorá-los ou ensaiá-los por mais do que alguns
minutos. Tudo isso para contar a
história (e as histórias por trás) de
um filme sendo feito em Hollywood, com um final à "E la Nave
Và", que revela a feitura do próprio "Full Frontal".
Esquisito? Confuso? São traços
da personalidade de Steven Soderbergh, uma das mais interessantes e instigantes do cinema
atual. O norte-americano de 39
anos entrou no radar do mundo
no Festival de Sundance de 1989,
com o original "sexo, mentiras e
videotape", que cantava a bola do
"reality show" uma década antes
de a onda tomar a TV.
Desde então, vem alargando os
limites de Hollywood por dentro,
seja como diretor, seja como produtor de títulos independentes.
Para comprovar basta fazer uma
lista de seus últimos cinco filmes:
"Erin Brockovich" e "Traffic", de
2000, "Onze Homens e Um Segredo", de 2001, este "Full Frontal" e
"Solaris", ambos de 2002.
"Erin Brockovich" é até certo
ponto tradicional, lhe valeu cinco
indicações ao Oscar e a estatueta a
Julia Roberts, além de criar um
produtivo elo entre os dois e render US$ 130 milhões na bilheteria.
Foi o filme que lhe abriu as portas
dos grandes estúdios.
Em vez de sentar sobre os louros e entrar no piloto automático,
ele inovou na sequência com o
thriller "Traffic", encarado por alguns como proselitista, mas na
verdade um dos retratos mais
cruéis e originais já feitos sobre o
mundo das drogas nos EUA.
Rendeu inesperados US$ 200
milhões, mais cinco indicações ao
Oscar, entre elas a vitória na direção, em que Soderbergh concorria com ele mesmo por "Erin". Foi
o filme que o consagrou como diretor ousado e o confirmou como
bom de público.
De novo, uma guinada: no ano
seguinte, a refilmagem de um título que não era grande coisa originalmente (OK, reunia o Rat
Pack original, mas só) e virou um
divertido "filme de roubo": "Onze
Homens e Um Segredo", dessa
vez reforçando seus laços com
George Clooney.
Vem este exercício estético "Full
Frontal", que comprova que o diretor está no cobiçado patamar
dos que podem fazer o que quiser
com seu tempo livre, e então a
surpresa: "Solaris", refilmagem
da importante obra homônima
de 1972 de Andrei Tarkovsky
(1932-1986), por sua vez uma
adaptação do romance do ucraniano Stanislaw Lem.
O filme estréia dia 27 nos EUA,
reúne Clooney e Natascha McElhone nos papéis principais e é
uma delicada homenagem ao cineasta bielo-russo, a Stanley Kubrick (1928-1999) e seu "2001", a
Philip K. Dick (1928-1982) e seu
"Blade Runner" e a todos os grandes nomes que um dia se dedicaram à ficção científica.
Ao não ceder à tentação de glamourizar o ritmo quase bergmaniano do roteiro original -que
usa estranhos acontecimentos
numa estação espacial perto do
sistema Solaris para tentar responder ao questionamento mais
antigo da humanidade (Quem somos? De onde viemos? Para onde
vamos?)-, o "Solaris" de Soderbergh é antes de tudo uma declaração de princípios.
É por isso tudo que você sai de
"Full Frontal" esfregando as mãos
e imaginando, animado: "O que
será que Steven Soderbergh vai
aprontar agora?".
Full Frontal
Idem
Direção: Steven Soderbergh
Produção: EUA, 2002
Com: David Duchovny, Catherine
Keener, Julia Roberts
Onde: a partir de hoje nos cines Center
Iguatemi 1 e circuito
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