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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"Poetinha" ganha oportunidade de vencer seu apelido em seleção feita por Eucanaã Ferraz e Antonio Cicero

"Nova Antologia" redimensiona Vinicius

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

"Poetinha" foi um dos apelidos mais notórios de Vinicius de Moraes (1913-1980). Um tratamento carinhoso que, de certa forma, vestia bem a imagem de bon vivant que o escritor deixou, mas que, ao mesmo tempo, não faz jus à sua estatura na poesia brasileira.
A opinião é do poeta Eucanaã Ferraz, 42, que organizou, ao lado do também poeta Antonio Cicero, 58, a "Nova Antologia Poética", um dos principais lançamentos que celebram os 90 anos de nascimento do poeta carioca.
"A não-popularidade de um poeta está mais de acordo com o que os círculos intelectuais esperam de um poeta culto. Vinicius demoliu tudo isso. Ele foi um poeta moderno: despido de toda "aura'", afirma Ferraz.
O estigma da popularidade vai mais além. "Hoje não é sequer fácil encontrar estudos de fôlego sobre a obra viniciana", diz Ferraz.
Empenhados nesse reparo, Ferraz e Cicero se debruçaram nesta "Nova Antologia". Nova porque, em vida, o poeta organizara sua primeira "Antologia Poética", de 54, atualizada por ele em 67.
Ali, Vinicius separava sua obra em duas fases: a primeira mais cristã, a segunda mais aproximada do mundo material, sem os idealismos iniciais dos quais queria se afastar, o que o fez renegar seus dois primeiros livros.
Essa última intenção de Vinicius guiou o trabalho de Ferraz e Cicero, ao abandonarem a divisão bifásica. "Nosso distanciamento nos permitiu abrir mão do registro. O resultado é uma seleção que mostra uma poesia mais livre, mais moderna, mais densa e mais leve", afirma Ferraz.
Além de acrescentar poemas que ficaram de fora da edição de 67, "Nova Antologia Poética" corrige erros em datas, textos e versos, mas não se pretende definitiva, conforme declara Ferraz.
"É apenas a visão de duas pessoas. Os outros poemas continuam e merecem ser reestudados pela crítica", diz. "Hoje, estamos mais preparados para ler Vinicius e aprender com ele", conclui.

Piano e voz
E há Vinicius para todos. Nesta terça, a soprano Céline Imbert, uma das vozes mais celebradas da cena lírica nacional, interpreta 18 canções do poeta ao lado do pianista Marcelo Guelfi, em SP.


NOVA ANTOLOGIA POÉTICA. De: Vinicius de Moraes. Organização: Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. Lançamento: Companhia das Letras. Quanto: R$ 32,50 (280 págs.).

CÉLINE IMBERT E MARCELO GUELFI.Recital de voz e piano com obras de Vinicius de Moraes. Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3871-7700). Quando: 25/11, às 21h. Quanto: de R$ 6 a R$ 12.


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