BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Quanto tempo dura um hype? O novo electro, vertente da música eletrônica que invadiu clubes de São Paulo e Nova York, tem seus dias contados, segundo um de seus principais divulgadores, Helmut Geier (DJ Hell), 40, que toca hoje na cidade. O alemão criou, em 1997, o selo International DeeJay Gigolos, que desencadeou o revival do electro.
Criado no começo dos anos 80 por Afrika Bambaataa, o estilo junta sintetizadores, hip hop e funk; nas mãos de Hell, o formato ficou entupido de referências da new wave, do pós-punk e do tecno. Quatro anos depois, chegaria em Nova York, onde cresceu e ganhou o nome "electroclash".
De olho no cansaço do estilo, Hell investe em um dos fatores responsáveis pelo sucesso entre o público não-eletrônico: a aproximação com os sons "orgânicos". No início, foram a ênfase nos vocais e nos instrumentos de baixa tecnologia. Sua aposta agora é na fusão com o rock.
De férias no Brasil, Hell vai abrir um show da baiana Daniela Mercury em Salvador, neste fim de semana. Ecletismo, percebe-se, é o norte do alemão. Ele desembarca também via CD, com a compilação dupla "International DeeJay Gigolos Records 6" (2002).
Com cerca de trinta artistas, do veterano Marc Almond, resgatado por Hell, aos badalados Fischerspooner, o CD dá amostras da prolífica produção atual.
"Grupos como Fat Truckers e Atomizer apontam o futuro: o rock, sem deixar de lado a eletrônica", diz Hell. "Hoje não há mais muros como nos anos 90. Tudo é uma fusão de estilos. Na Europa, o hype electro já tem quase cinco anos, isso não é mais novidade. O conceito é sempre esperar o inesperado, nunca copiar e colocar o foco em influências não apenas sonoras. Hoje, funcionamos como um grande cérebro, reunimos artistas, fotógrafos, cineastas, não somos apenas um selo de tecno."
O DJ lança também "Electronicbody-Housemusic" (React, importado, R$ 74, em média), compilação com outros grupos e estilos dos anos 80 que influenciaram a estética do Gigolo, mas que eram usados menos explicitamente até então. Estão presentes nomes que fizeram a alegria do público gótico e EBM dos anos 80, como Front 242, Nitzer Ebb e Bauhaus. "Quando o punk aconteceu, eu já tinha idade para acompanhar tudo. Nas minhas discotecagens, tocava este som. Essa influência continua. Basta olhar as bandas eletrônicas com guitarras que estão aparecendo."