São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2000


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MODA - MILÃO
Prada flerta com tradição, e "new chic" avança

Associated Press
Modelo mostra criação da Prada


ERIKA PALOMINO
enviada especial a Milão


Milão consolida os passos da moda em direção ao novo chic. A temporada de desfiles de outono-inverno 2000 na cidade, que começou no fim-de-semana, demarca os contornos da elegância contemporânea, um estilo de vestir sofisticado e elaborado, rico -sempre que possível.
A Prada esquenta a segunda-feira e é o grande destaque desse momento, dando sequência ao momento iniciado pela própria marca na última temporada, quando peças-chave do bom gosto fashion, de cunho atemporal (cacharréis, saias retas, twin-sets) tiveram carimbados os seus passaportes para o novo milênio.
A marca desfilou na segunda, conseguindo (não é pouca coisa) evoluir seus próprios conceitos. "Sedução formal - Flertando com a tradição e com os prazeres clássicos", atiçava, de modo sintético, o cartão no assento de cada um dos 500 espectadores da apresentação. Os compradores adoraram; os fashionistas também. Há bastante desejo de moda aqui.
O look é mais rebelde do que as "catherine deneuves" do verão da marca. As "belles de jour" da estilista Miuccia Prada estão mais existencialistas do que nunca. Usam coques detonados, como se tivessem andado de moto, e o olho tem kajal preto embaixo, levemente borrado. Mais Miu Miu que Prada, até. Se coubesse aqui uma definição, poderia ser trash-chic. Mas apenas na beleza: de trash as roupas não têm nada...
Estolas de pele estão por toda parte, virando também falsas golas ou foulards; o pêlo de vaca é preto e cinza, em capas (essenciais na temporada); os vestidos-camisolas com lantejoulas douradas -sem mangas, decote em "V" (bem Prada)- mantêm-se no território do bom gosto.
Outras cores são o marrom, o amarelo e o suave laranja. O trabalho de estamparia é marcante, em flores harmoniosas e no abstracionismo. A trama da lã multicolorida ganha status de padronagem, para o marrom ou para o laranja, vindo, por exemplo, em saia de pregas evasê (que vai abrindo embaixo).
Não sentem frio nos pés as "prada-girls", já que só usam sandálias, aquelas com calcanhar de fora e os dedos aparecendo delicadamente em forma de U, salto quadrado, anos 40/50. Uma luva de couro branca incrível serve de adorno, enquanto as bolsas vêm menores, com aquelas alças longas e arredondadas.
Bingo: os prazeres, então, estão no toque: o veludo molhado marrom pode ganhar ou não aplicações de flores no vestido pouco abaixo do joelho.
Em tudo -nesses vestidos, nos casacos e nas capas- o centro da silhueta é a cintura, sempre marcada. O item hype, que vai fazer reconhecer a coleção, é o uso de fitas finas de tecido, como aquelas das caixas de presentes. Elas fazem laços, cintos e alças das camisolas e regatas. Os ombros, nus ou com jaquetas reforçadas, também merecem atenção.
A trilha sonora é ambient, quase muzak, tipo música de elevador, sem ser cafona. Como a Prada, conhece os limites de universos em intersecção. Assim, a moda 2000 flerta com o luxo, tentando ser moderna. Quer ser clássica e novidadeira. Quem conseguir ganha a mão da princesa.


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