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MODA - MILÃO
Prada flerta com tradição, e "new chic" avança
Associated Press
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Modelo mostra criação da Prada |
ERIKA PALOMINO
enviada especial a Milão
Milão consolida os passos da
moda em direção ao novo chic. A
temporada de desfiles de outono-inverno 2000 na cidade, que começou no fim-de-semana, demarca os contornos da elegância
contemporânea, um estilo de vestir sofisticado e elaborado, rico
-sempre que possível.
A Prada esquenta a segunda-feira e é o grande destaque desse
momento, dando sequência ao
momento iniciado pela própria
marca na última temporada,
quando peças-chave do bom gosto fashion, de cunho atemporal
(cacharréis, saias retas, twin-sets)
tiveram carimbados os seus passaportes para o novo milênio.
A marca desfilou na segunda,
conseguindo (não é pouca coisa)
evoluir seus próprios conceitos.
"Sedução formal - Flertando com
a tradição e com os prazeres clássicos", atiçava, de modo sintético,
o cartão no assento de cada um
dos 500 espectadores da apresentação. Os compradores adoraram; os fashionistas também. Há
bastante desejo de moda aqui.
O look é mais rebelde do que as
"catherine deneuves" do verão da
marca. As "belles de jour" da estilista Miuccia Prada estão mais
existencialistas do que nunca.
Usam coques detonados, como se
tivessem andado de moto, e o
olho tem kajal preto embaixo, levemente borrado. Mais Miu Miu
que Prada, até. Se coubesse aqui
uma definição, poderia ser trash-chic. Mas apenas na beleza: de
trash as roupas não têm nada...
Estolas de pele estão por toda
parte, virando também falsas golas ou foulards; o pêlo de vaca é
preto e cinza, em capas (essenciais na temporada); os vestidos-camisolas com lantejoulas douradas -sem mangas, decote em
"V" (bem Prada)- mantêm-se
no território do bom gosto.
Outras cores são o marrom, o
amarelo e o suave laranja. O trabalho de estamparia é marcante,
em flores harmoniosas e no abstracionismo. A trama da lã multicolorida ganha status de padronagem, para o marrom ou para o
laranja, vindo, por exemplo, em
saia de pregas evasê (que vai
abrindo embaixo).
Não sentem frio nos pés as "prada-girls", já que só usam sandálias, aquelas com calcanhar de fora e os dedos aparecendo delicadamente em forma de U, salto
quadrado, anos 40/50. Uma luva
de couro branca incrível serve de
adorno, enquanto as bolsas vêm
menores, com aquelas alças longas e arredondadas.
Bingo: os prazeres, então, estão
no toque: o veludo molhado
marrom pode ganhar ou não
aplicações de flores no vestido
pouco abaixo do joelho.
Em tudo -nesses vestidos, nos
casacos e nas capas- o centro da
silhueta é a cintura, sempre marcada. O item hype, que vai fazer
reconhecer a coleção, é o uso de
fitas finas de tecido, como aquelas das caixas de presentes. Elas
fazem laços, cintos e alças das camisolas e regatas. Os ombros,
nus ou com jaquetas reforçadas,
também merecem atenção.
A trilha sonora é ambient, quase muzak, tipo música de elevador, sem ser cafona. Como a Prada, conhece os limites de universos em intersecção. Assim, a moda 2000 flerta com o luxo, tentando ser moderna. Quer ser clássica
e novidadeira. Quem conseguir
ganha a mão da princesa.
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