São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2001

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MODA

Estilista apresentou anteontem, durante temporada inglesa, coleção de 2001, em que mistura fetiches e temas infantis

McQueen mostra circo fashion do terror

ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

O grande circo do terror chegou à cidade. É o desfile de Alexander McQueen, anteontem, na temporada inglesa de lançamentos para o inverno 2001, que terminou ontem após uma semana de desfiles. Com um imaginário tétrico, sinistro e muito fashion, o estilista prova que é o número um.
Seu tailoring é preciso, profissional, clássico no acabamento e arrojado nas formas. Seus materiais vêm da indústria do alto luxo. As referências vêm do submundo da noite e do fetiche, misturados desta vez a temas infantis como o carrossel do cenário, a trilha sonora de caixinha de música e o som de crianças no recreio, além de dezenas de bonecas, balões e palhaços.
Só que desta vez, todo os elementos apresentados com caráter perverso e pervertido, sexualizado e agressivo. E lindo. Que belíssimo espetáculo um desfile de Alexander McQueen.
Como uma platéia de circo, ao centro há cavalinhos de carrossel -que já não eram cavalinhos convencionais, mas embalados por fitas adesivas (tipo fita crepe) em roxo, preto e bege. Não apenas o carrossel rodava -como era de se imaginar-, mas o círculo central de descolava, girando em movimentos como os de um pião, e as modelos tinham que subir e descer rampas e ainda lidar com o chão rodando e rodando.
Em performances dignas de showgirls ou dançarinas de clubes de sexo, elas rodopiavam e faziam ainda lascivas poses nos cavalinhos em si. "What a Merry-Go-Round" é o tema do desfile, e muita gente só viu o desenho do assustador palhaço triste do convite quando chegou lá.
Não fez diferença. Nem a espera gigantesca e o tratamento pouco vip em relação aos convidados fizeram mais: quando entrou a primeira modelo, ao som de rock pesado, numa jaqueta de vinil bege como o do cavalinho e botas de cano alto, já se via tudo.
O militarismo deu o tom de muitas peças, no verde e na alfaiataria, ou mesmo no preto sadomasoquista do meio para o final, quando "caps" de vinil ganharam penachos do chapeleiro Philip Treacy. Isso sem falar nas exóticas caveiras de metal, presentes também em cintos gigantes, onde era possível ler "McQueen", como uma espécie de tribo de motoqueiros malucos. Nos pés, botas de cano alto com biqueiras douradas ou mules.
Junto às formas elaboradas de McQueen, o trabalho com volumes, uma de suas marcas registradas -desta vez em picotes e golas, misturados a vestidos de jérsei em preto, cinza ou verde, desenhando o corpo. Ou mesmo nos vestidos sem cintura, com silhueta anos 30, e ainda no casaco de estilo art deco preto com meia verde.
Muitas capas, sempre estruturadas, usadas até o pé apenas com uma botinha, ou ainda na versão smoking, curta e sexy, sem nada por baixo. Como acessório, uma estola de esqueleto dourado sobre um vestido-tuxedo, ou as penas de pavão em saias e tops.
Quanto mais pesado melhor, e o segmento de malhas de lã desconstruída com desenho de caveira atrás está entre os highlights. O momento mais absurdo, entretanto, se deu quando o palco (podemos chamar assim) se iluminou por trás, revelando um outro cenário, onde brinquedos do terror e modelos se misturavam. Lá, Erin O'Connor segurava dezenas de balões, com um vestido de tule laranja e preto e o rosto pintado de "palhaço do mal", meio Kiss, meio Chuck.
Outras modelos cortaram os balões, que subiram e a deixaram rodando sozinha, no carrossel, enquanto uma modelo, num vestido de renda transparente, arrastava pelo pé uma caveira de metal dourada.



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