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CRÍTICA
L'Insolite, um bistrô em Belô
ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Nem tão insólito quanto o
nome sugere. Mas L'Insolite
não deixa de ter sua dose de insolitude, ou extraordinaridade, ou
seja que substantivo for para
aquilo que não é comum. Com
mais altos do que baixos, o novo
bistrô de Belo Horizonte é bom o
bastante para que a expressão deixe de soar insólita: um bistrô em
Belô. Se esse ainda é um limite,
talvez seja só questão de tempo e
não depõe nada contra a cidade,
onde há muito se come muito
bem.
L'Insolite é uma parceria de
Memmo Biadi (do Vecchio Sogno, o restaurante de referência
dos mineiros) com o chef Clóvis
Viana, que agora faz dupla jornada: no andar de baixo, no Amici
Miei, um bar e restaurante movimentado, com mesas na rua; e, no
de cima, na nova casa, que está
mais para "restaurant", propriamente dito, do que para bistrô
francês. Nem a comida é simples,
nem o serviço básico, nem o ambiente caseiro. Muito pelo contrário. (Vamos deixar de lado o bar,
que parece transposto, por alguma divindade perversa, diretamente da churrasqueira de um
clube.)
A carta de vinhos começa com
uma seleção de espumantes, alguns dos quais são trazidos logo
tentadoramente à mesa. Todo
mundo cede -e faz muito bem.
Um menu-degustação traz duas
opções de entrada, dois primeiros
e dois segundos pratos, e surpresas ficam para o fim.
Folhado de queijo, com pêra e
porto. Musseline de salmão com
guisado de camarão. Quem começa assim, cria para si mesmo
consideráveis responsabilidades.
Um jantar, entre outras coisas, é
uma sequência temporal, com
sentido próprio de dramaticidade. O ravióli de camarão ao creme
porró e pastis, por exemplo, funciona muito bem como segundo
movimento. O peixe à L'Insolite é
ainda melhor (molho de vieiras e
champanhe).
Quem pedir será brindado, simpaticamente, com a opção de taças de vinho para acompanhar o
festim. L'Insolite ganha pontos
com isso. Mas perde quando se
prova os Côtes du Rhone sugeridos, que não estão à altura das artes do chef.
Na estrutura musical do jantar,
o ponto de maior complexidade e
exuberância tem de ser o segundo
prato. E aqui, vamos ser francos,
as coisas não correram tão bem.
Tanto o peito de pato quanto o
tournedos com foie gras estavam
fora do ponto para quem não está
acostumado a comer as carnes tão
secas.
A julgar pela popularidade da
casa, que parece já ter clientela
contumaz, esse ponto não é o chef
que decide. Muito bem. Mas não
custa perguntar, caso a caso. Há
quem prefira seu filé de bistrô
mais francesamente sangrando.
E as surpresas? Rimam com sobremesas. Formada no Cordon
Bleu, Cristiana Brant está fazendo
verdadeiras façanhas na rua Tomé de Souza.
Faz pensar no dito do mitológico cozinheiro Carême (1783-1833), para quem a arquitetura
era uma das belas artes e seu ramo
principal, a "fabricação de doces".
Rendas erguem-se delicadamente
dos pratos, que nem por serem
delicados deixam de ser saborosos. Grandes doces!
Os deslizes do ambiente (além
do bar, há a luz, o piso, a cobertura das mesas) talvez sejam mais
difíceis de consertar do que o
principal. Mas contam menos, é
claro.
L'Insolite começa com o pé direito e tem tudo para melhorar.
Come-se bem em Belô, sô (tradução: "bien sûr").
Cotação: $$$°Avaliação:
Restaurante: L'Insolite
Endereço: rua Tomé de Souza,
1.331, tel. 0/xx/31/3227-6740, Belo
Horizonte
Quanto: menu-degustação, R$ 70
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