São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2001

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CRÍTICA

L'Insolite, um bistrô em Belô

ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nem tão insólito quanto o nome sugere. Mas L'Insolite não deixa de ter sua dose de insolitude, ou extraordinaridade, ou seja que substantivo for para aquilo que não é comum. Com mais altos do que baixos, o novo bistrô de Belo Horizonte é bom o bastante para que a expressão deixe de soar insólita: um bistrô em Belô. Se esse ainda é um limite, talvez seja só questão de tempo e não depõe nada contra a cidade, onde há muito se come muito bem.
L'Insolite é uma parceria de Memmo Biadi (do Vecchio Sogno, o restaurante de referência dos mineiros) com o chef Clóvis Viana, que agora faz dupla jornada: no andar de baixo, no Amici Miei, um bar e restaurante movimentado, com mesas na rua; e, no de cima, na nova casa, que está mais para "restaurant", propriamente dito, do que para bistrô francês. Nem a comida é simples, nem o serviço básico, nem o ambiente caseiro. Muito pelo contrário. (Vamos deixar de lado o bar, que parece transposto, por alguma divindade perversa, diretamente da churrasqueira de um clube.)
A carta de vinhos começa com uma seleção de espumantes, alguns dos quais são trazidos logo tentadoramente à mesa. Todo mundo cede -e faz muito bem.
Um menu-degustação traz duas opções de entrada, dois primeiros e dois segundos pratos, e surpresas ficam para o fim.
Folhado de queijo, com pêra e porto. Musseline de salmão com guisado de camarão. Quem começa assim, cria para si mesmo consideráveis responsabilidades. Um jantar, entre outras coisas, é uma sequência temporal, com sentido próprio de dramaticidade. O ravióli de camarão ao creme porró e pastis, por exemplo, funciona muito bem como segundo movimento. O peixe à L'Insolite é ainda melhor (molho de vieiras e champanhe).
Quem pedir será brindado, simpaticamente, com a opção de taças de vinho para acompanhar o festim. L'Insolite ganha pontos com isso. Mas perde quando se prova os Côtes du Rhone sugeridos, que não estão à altura das artes do chef.
Na estrutura musical do jantar, o ponto de maior complexidade e exuberância tem de ser o segundo prato. E aqui, vamos ser francos, as coisas não correram tão bem. Tanto o peito de pato quanto o tournedos com foie gras estavam fora do ponto para quem não está acostumado a comer as carnes tão secas.
A julgar pela popularidade da casa, que parece já ter clientela contumaz, esse ponto não é o chef que decide. Muito bem. Mas não custa perguntar, caso a caso. Há quem prefira seu filé de bistrô mais francesamente sangrando.
E as surpresas? Rimam com sobremesas. Formada no Cordon Bleu, Cristiana Brant está fazendo verdadeiras façanhas na rua Tomé de Souza.
Faz pensar no dito do mitológico cozinheiro Carême (1783-1833), para quem a arquitetura era uma das belas artes e seu ramo principal, a "fabricação de doces". Rendas erguem-se delicadamente dos pratos, que nem por serem delicados deixam de ser saborosos. Grandes doces!
Os deslizes do ambiente (além do bar, há a luz, o piso, a cobertura das mesas) talvez sejam mais difíceis de consertar do que o principal. Mas contam menos, é claro.
L'Insolite começa com o pé direito e tem tudo para melhorar. Come-se bem em Belô, sô (tradução: "bien sûr").




Cotação: $$$°Avaliação:   
Restaurante: L'Insolite Endereço: rua Tomé de Souza, 1.331, tel. 0/xx/31/3227-6740, Belo Horizonte Quanto: menu-degustação, R$ 70




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