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Livro de Thomas
Harris é diferente
e muito melhor
DE NOVA YORK
Você pode pegar um bom
livro e filmar uma obra-prima, como conseguiu Francis
Ford Coppola com "O Poderoso Chefão", de Mario Puzo. Ou um ótimo livro e fazer
um filme apenas razoável,
que é o caso de "Hannibal".
A obra de Thomas Harris,
a terceira em que o psicopata
Hannibal Lecter aparece, é
de longe sua melhor (as outras duas são "Dragão Vermelho", fora de catálogo, e
"O Silêncio dos Inocentes").
Na adaptação para a tela,
que ganhou um primeiro
tratamento do dramaturgo
David Mamet, recusado pelo
diretor e depois terminado
por Steven Zaillian, personagens foram empobrecidos e
muitos desapareceram.
Faz falta a irmã ruiva lésbica de Mason Verger, abusada sexualmente por ele na
adolescência e de papel-chave no desfecho escrito. Mas
foi na simplificação de personagens centrais que o saldo ficou mais devedor. Clarice Starling, por exemplo,
mora com a mesma amiga
negra dos outros dois livros
e há até uma leve tensão erótica entre elas. Tudo sumiu.
O caso mais grave é do
mesmo Mason Verger. O
personagem mais cruel da literatura desde a marquesa
Juliette de Merteuil, de Choderlos de Laclos, vira bem
mais palatável na tela. Ficam
quase de fora sua pedofilia
-um de seus prazeres é tomar martini feito com lágrimas de crianças- e sua personalidade dividida entre a
conversão cristã e o desejo
por meninos de rua.
Mamet enxergou todo o
potencial da dobradinha
Verger/Gary Oldman na primeira versão do roteiro, que
dava mais tempo a ele do
que ao próprio Hannibal.
E o final. Ridley Scott mudou deliberadamente a conclusão, que ficou "mais cinematográfica", disse. Não
conto nenhuma das duas,
mas garanto: a de Thomas
Harris é melhor.
(SD)
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