São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2001

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Livro de Thomas Harris é diferente e muito melhor

DE NOVA YORK

Você pode pegar um bom livro e filmar uma obra-prima, como conseguiu Francis Ford Coppola com "O Poderoso Chefão", de Mario Puzo. Ou um ótimo livro e fazer um filme apenas razoável, que é o caso de "Hannibal".
A obra de Thomas Harris, a terceira em que o psicopata Hannibal Lecter aparece, é de longe sua melhor (as outras duas são "Dragão Vermelho", fora de catálogo, e "O Silêncio dos Inocentes"). Na adaptação para a tela, que ganhou um primeiro tratamento do dramaturgo David Mamet, recusado pelo diretor e depois terminado por Steven Zaillian, personagens foram empobrecidos e muitos desapareceram.
Faz falta a irmã ruiva lésbica de Mason Verger, abusada sexualmente por ele na adolescência e de papel-chave no desfecho escrito. Mas foi na simplificação de personagens centrais que o saldo ficou mais devedor. Clarice Starling, por exemplo, mora com a mesma amiga negra dos outros dois livros e há até uma leve tensão erótica entre elas. Tudo sumiu.
O caso mais grave é do mesmo Mason Verger. O personagem mais cruel da literatura desde a marquesa Juliette de Merteuil, de Choderlos de Laclos, vira bem mais palatável na tela. Ficam quase de fora sua pedofilia -um de seus prazeres é tomar martini feito com lágrimas de crianças- e sua personalidade dividida entre a conversão cristã e o desejo por meninos de rua.
Mamet enxergou todo o potencial da dobradinha Verger/Gary Oldman na primeira versão do roteiro, que dava mais tempo a ele do que ao próprio Hannibal.
E o final. Ridley Scott mudou deliberadamente a conclusão, que ficou "mais cinematográfica", disse. Não conto nenhuma das duas, mas garanto: a de Thomas Harris é melhor. (SD)


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