São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

Ônibus-instalação criado pela artista paulistana, "Carne" vai visitar escolas públicas da zona leste de SP

Carmela Gross prepara obra que "pede passagem"

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele é vermelho por fora, tem revestimento vermelho, vidros vermelhos, apenas alguns alaranjados e rosados puxando para... o vermelho. Dentro, o mesmo efeito cromático: paredes avermelhadas, bancos idem.
Assim é "Carne", ônibus-obra interativo criado pela artista plástica paulistana Carmela Gross, 60, para o projeto Arte Passageira do núcleo educativo do Centro MariAntonia (USP).
A convite de Carmela, a reportagem da Folha visitou o ônibus na fase final de sua execução. "Guardado" na garagem da Universidade de São Paulo, o veículo de placa BVZ-8277 chegará ao Centro MariAntonia no dia 16 de março e depois passará a visitar escolas públicas, especialmente na zona leste, servindo como instrumento educativo interativo.
"O ônibus é o suporte mais emblemático da cidade. Recebi este convite do Lorenzo [Mammi, diretor do MariAntonia] no final do ano passado e achei ótimo. Não quero em nenhum momento fazer uma obra que exija do público uma posição contemplativa", diz Carmela, para quem o título remete ao transporte coletivo e anônimo de pessoas e à noção de "organismo vivo" ligada à arte.
A palavra-título "Carne" vem estampada como destino luminoso, e os vidros vermelhos transformam não só a atmosfera interna como a visão que o espectador em seu interior tem de fora, da cidade.
"A idéia é criar esse movimento da arte contemporânea em direção ao espaço público da urbe, e não apenas em direção ao mercado", explica a artista.

Processo
"Quem entra num ônibus veio de onde? Vai para onde?", pergunta Camela, professora do departamento de artes plásticas da ECA-USP desde 1972, enquanto coordena sua equipe de quatro assistentes. Segundo ela, o processo de criação é tão relevante quanto o produto final -tanto que um vídeo com as etapas da produção de "Carne" será mostrado durante o vernissage. Este, aliás, promete surpresas: serão servidas apenas bebidas vermelhas -suco de melancia, Campari, groselha- e o filme será projetado do prédio do Mackenzie em direção às paredes do MariAntonia.

Didática
"Carne" é o primeiro de três ônibus previstos pelo projeto e deverá ficar assim por um ano, antes de ser "reconstruído" por outro artista.
O segundo da série será concebido por Laura Vinci e o terceiro por um artista de nome ainda não determinado, provavelmente envolvendo temática relacionada à poesia visual.
Parceria do Centro MariAntonia com a USP Leste, a proposta idealizada por Rosa Iavelberg prevê que o ônibus seja instrumento educacional multidisciplinar. Junto da "visita" do veículo, as diversas escolas receberão material didático.
"Nosso objetivo é oferecer um material didático que permita uma contextualização da obra, que levante questões pertinentes envolvendo geografia e arte contemporânea. Os professores serão orientados sobre pontos para reflexão e sugestões de atividades práticas a partir dessa visita do ônibus-objeto", explica Iavelberg.
A intenção é que o ônibus sirva ainda para que alunos de pedagogia da USP possam discutir questões didáticas. "Nossa idéia é que a obra visite instituições de ensino fundamental, médio, de jovens e adultos e também sirva de instrumento para pesquisa e reflexão didáticas."
O ônibus de Carmela deverá realizar saídas diárias. Embora o esquema de visitas ainda não esteja estabelecido, o MariAntonia já recebe telefonemas de escolas dispostas a receber a "instalação".


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