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ARTES PLÁSTICAS
Ônibus-instalação criado pela artista paulistana, "Carne" vai visitar escolas públicas da zona leste de SP
Carmela Gross prepara obra que "pede passagem"
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele é vermelho por fora, tem revestimento vermelho, vidros vermelhos, apenas alguns alaranjados e rosados puxando para... o
vermelho. Dentro, o mesmo efeito cromático: paredes avermelhadas, bancos idem.
Assim é "Carne", ônibus-obra
interativo criado pela artista plástica paulistana Carmela Gross, 60,
para o projeto Arte Passageira do
núcleo educativo do Centro MariAntonia (USP).
A convite de Carmela, a reportagem da Folha visitou o ônibus
na fase final de sua execução.
"Guardado" na garagem da Universidade de São Paulo, o veículo
de placa BVZ-8277 chegará ao
Centro MariAntonia no dia 16 de
março e depois passará a visitar
escolas públicas, especialmente
na zona leste, servindo como instrumento educativo interativo.
"O ônibus é o suporte mais emblemático da cidade. Recebi este
convite do Lorenzo [Mammi, diretor do MariAntonia] no final do
ano passado e achei ótimo. Não
quero em nenhum momento fazer uma obra que exija do público
uma posição contemplativa", diz
Carmela, para quem o título remete ao transporte coletivo e anônimo de pessoas e à noção de "organismo vivo" ligada à arte.
A palavra-título "Carne" vem
estampada como destino luminoso, e os vidros vermelhos transformam não só a atmosfera interna como a visão que o espectador
em seu interior tem de fora, da cidade.
"A idéia é criar esse movimento
da arte contemporânea em direção ao espaço público da urbe, e
não apenas em direção ao mercado", explica a artista.
Processo
"Quem entra num ônibus veio
de onde? Vai para onde?", pergunta Camela, professora do departamento de artes plásticas da
ECA-USP desde 1972, enquanto
coordena sua equipe de quatro
assistentes. Segundo ela, o processo de criação é tão relevante quanto o produto final -tanto que um
vídeo com as etapas da produção
de "Carne" será mostrado durante o vernissage. Este, aliás, promete surpresas: serão servidas apenas bebidas vermelhas -suco de
melancia, Campari, groselha- e
o filme será projetado do prédio
do Mackenzie em direção às paredes do MariAntonia.
Didática
"Carne" é o primeiro de três
ônibus previstos pelo projeto e
deverá ficar assim por um ano,
antes de ser "reconstruído" por
outro artista.
O segundo da série será concebido por Laura Vinci e o terceiro
por um artista de nome ainda não
determinado, provavelmente envolvendo temática relacionada à
poesia visual.
Parceria do Centro MariAntonia com a USP Leste, a proposta
idealizada por Rosa Iavelberg prevê que o ônibus seja instrumento
educacional multidisciplinar.
Junto da "visita" do veículo, as diversas escolas receberão material
didático.
"Nosso objetivo é oferecer um
material didático que permita
uma contextualização da obra,
que levante questões pertinentes
envolvendo geografia e arte contemporânea. Os professores serão
orientados sobre pontos para reflexão e sugestões de atividades
práticas a partir dessa visita do
ônibus-objeto", explica Iavelberg.
A intenção é que o ônibus sirva
ainda para que alunos de pedagogia da USP possam discutir questões didáticas. "Nossa idéia é que
a obra visite instituições de ensino
fundamental, médio, de jovens e
adultos e também sirva de instrumento para pesquisa e reflexão
didáticas."
O ônibus de Carmela deverá
realizar saídas diárias. Embora o
esquema de visitas ainda não esteja estabelecido, o MariAntonia já
recebe telefonemas de escolas dispostas a receber a "instalação".
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