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OSCAR
FILME ESTRANGEIRO
Ricardo Darín, protagonista do indicado argentino, diz que tudo é menor depois do sucesso popular
Ganhar estatueta é "ambição desmedida"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele é "O Filho da Noiva". O ator
argentino Ricardo Darín, 44, protagoniza o título de Juan José
Campanella, que concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Amanhã, Darín acompanhará o
anúncio do vencedor entre os
convidados no Kodak Theatre,
onde se realiza a 74ª cerimônia de
entrega das estatuetas. O ator
pensou em não ir, porque acha a
festa "um contraponto muito frívolo" à atual situação de crise de
seu país. Mas foi convencido a
viajar por "amigos e colegas".
Para estar em Los Angeles, o
ator teve de cancelar as sessões
deste fim de semana da peça
"Art", de Yasmina Reza, com a
qual está em cartaz há cinco anos
na Argentina. Antes do espetáculo do último dia 15, Ricardo Darín
conversou com a Folha, em Mar
del Plata.
Folha - Quais são as chances de "O
Filho da Noiva" ganhar o Oscar?
Ricardo Darín - Serei absolutamente honesto: desconheço os
mecanismos da Academia. Tenho
ouvido que o francês "O Fabuloso
Destino de Amélie Poulain" não é
uma barbada e que os candidatos
mais fortes são o bósnio "Terra de
Ninguém" e "O Filho da Noiva".
Mas isso não me tira o sono. Eu
estava decidido a não ir para a cerimônia, porque me parece um
contraponto um tanto frívolo ao
que ocorre agora na Argentina.
Amigos e colegas de trabalho me
convenceram de que isso pode representar algo importante para
nós, por isso estarei lá. Mas ainda
acho que o caminho mais difícil o
filme já fez. Nada é mais difícil do
que contar uma história que agrade ao público. Tudo o que vem
depois é menor. Você pode até se
tornar ambicioso e querer que
aconteça isso ou aquilo, mas é
uma ambição desmedida.
Folha - Parte da crítica argentina
foi contra a indicação de "O Filho
da Noiva" por achar que "O Pântano", de Lucrecia Martel, traduz
com mais competência a realidade
do país. Como recebe as críticas?
Darín - A disputa entre críticos
de uma e de outra tendência será
eterna. "O Pântano" é um ótimo
filme, um filme incômodo, sobrecarregado de realismo. Nem toda
a realidade argentina é como a
que está em "O Pântano", assim
como "O Filho da Noiva" representa apenas uma parte dessa realidade. Acontece que muita gente
se opõe a filmes que tendem a ser
mais próximos do gosto popular.
Mas é ótimo que exista essa polêmica, porque ela faz com que
sempre se busque um ponto de
equilíbrio para alcançar o público
sem perder os princípios pessoais.
Folha - Qual é a perspectiva do cinema argentino?
Darín - Hoje o cinema argentino
se permite abordar temáticas diversas, mais livres do que as que
arrastamos pelos últimos 20 anos.
Era muito difícil, com 30 mil desaparecidos, afastar-se do tema da
ditadura militar. Um cineasta, jovem ou experiente, sentia a necessidade imperiosa de recair no tema, porque essa é uma ferida
aberta na sociedade. Mas, em termos profissionais e técnicos de cinema, isso reduziu possibilidades. Há uma nova geração de cineastas e roteiristas que, por não
haver tomado parte ativa nessa
época e também por uma necessidade profissional genuína, afastou-se dessa temática, permitindo
que o cinema crescesse de novo.
Folha - Quando um ator entra em
cena com o público já conquistado,
como tem acontecido com você, ele
não perde o desafio de interpretar?
Darín - É preciso esclarecer algo:
neste momento, todos na Argentina sentem uma depressão, uma
angústia, uma sensação de desprestígio muito grande. A possibilidade de que "O Filho da Noiva" ganhe um Oscar é o que está
por trás da reação a que você se
refere. Esse é um apoio mais social que especificamente profissional. Ao mesmo tempo, nosso
público é muito crítico na hora de
avaliar o trabalho. Se pode haver
minimamente uma espécie de
vantagem nesse apoio, ao mesmo
tempo, ele me parece impor um
duplo compromisso.
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