São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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"Quis passar o espírito de vida de Nash para o público", diz Crowe

PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Oscar 1, ano 2000. Começa a admiração da Academia por Russell Crowe. Tendo sido ignorado no ano anterior, quando interpretou um policial durão em "Los Angeles - Cidade Proibida", o neozelandês entra na disputa com "O Informante". Perde para Kevin Spacey, por "Beleza Americana".
Oscar 2, ano 2001. A derrota no ano anterior transforma Crowe, agora como o general Maximus, em "Gladiador", em favorito. E ele conquista seu primeiro Oscar.
Oscar 3, ano 2002. Amanhã ele pode se tornar o terceiro ator, ao lado de Spencer Tracy e Tom Hanks, a ganhar dois Oscar em anos consecutivos. Sua indicação desta vez é pela biografia do matemático John Nash Jr., em "Uma Mente Brilhante".
O forte lobby em torno de Denzel Washington ("Dia de Treinamento") e uma campanha contra o filme são os empecilhos para Crowe fazer história no prêmio.

Folha - Foi difícil se transformar no matemático John Nash Jr.?
Russell Crowe -
Isso se trata só de interpretação, não existe mais nada envolvido. Busco uma atitude física em relação aos personagens quando é necessário. No caso de "Uma Mente Brilhante", Nash ainda está vivo, mas sua juventude não foi documentada. Nada, nem a voz dele numa fita cassete.
Sylvia Nasar escreveu uma ótima biografia, mas nem ela teve ajuda direta dele. Então só pude pinçar apenas algumas nuances do livro. Tive acesso a vídeos de pessoas hospitalizadas com esquizofrenia, antes e depois do tratamento. Pude ver como essa doença as alterava. Nash foi um jovem muito forte. No entanto a esquizofrenia o modificou completamente. Minha intenção não foi copiá-lo, mas passar para o público o espírito de sua vida.

Folha - É fácil mergulhar num personagem tão complexo como um esquizofrênico e não "carregá-lo" para casa?
Crowe -
Não costumo andar com meus personagens a tiracolo. Faço uso deles entre os gritos de "ação" e "corta". Se você faz sua lição de casa, economiza energia quando não está trabalhando.

Folha - Você é um dos poucos atores a ter uma atitude irônica sobre Hollywood e sua máquina publicitária. Qual é sua reação ao Oscar?
Crowe -
Bem, honestamente, devo dizer que ter vencido no ano passado foi um dos bons momentos de minha vida, porque tive a chance de subir ao palco e falar sobre meu avô e também sobre meu tio, que tinha acabado de morrer. O momento do anúncio é surreal. Você está sentado, bem relaxado e escuta uma mulher dizer o seu nome. Parece que a terra se afundou debaixo de você...

Folha - Sua visão sobre sua profissão mudou depois do sucesso?
Crowe -
Não. Atuar ainda é uma grande forma de arte, pois ela é viva e mutável. Veja o que [Marlon" Brando fazia na década de 50: um trabalho completamente diferente de todo o mundo. Depois veio [Robert] De Niro com "O Touro Indomável" e declarou um novo padrão, em que a atitude física é tão importante quanto a interna e psicológica. Mais um pouquinho e surge Daniel Day-Lewis. Tento aprender com esses caras.

Folha - O sucesso colocou uma lupa sobre sua vida privada. Lemos a respeito de seu estilo de vida "selvagem", os supostos romances e festas. O que há de verdade nisso?
Crowe -
Chegou a hora de falar sobre meu divertido estilo de vida. Pelo menos é o que todos acham, não? Mas não é assim. Viajo para trabalhar. Tenho atravessado o mundo para trabalhar nas mais diferentes localidades. Uma paradinha para abastecer nas ilhas Fiji e já dizem que eu tive um caso com Nicole Kidman. Ora, sou um profissional disciplinado. Se passasse minha vida em festinhas, não alcançaria o nível de exigência em meu trabalho que me imponho. Nem ao cinema eu vou. Vejo filmes nos aviões. Meu pecado é gostar de pipoca [risos].



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