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"Quis passar o espírito de vida de Nash para o público", diz Crowe
PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
Oscar 1, ano 2000. Começa a admiração da Academia por Russell
Crowe. Tendo sido ignorado no
ano anterior, quando interpretou
um policial durão em "Los Angeles - Cidade Proibida", o neozelandês entra na disputa com "O
Informante". Perde para Kevin
Spacey, por "Beleza Americana".
Oscar 2, ano 2001. A derrota no
ano anterior transforma Crowe,
agora como o general Maximus,
em "Gladiador", em favorito. E
ele conquista seu primeiro Oscar.
Oscar 3, ano 2002. Amanhã ele
pode se tornar o terceiro ator, ao
lado de Spencer Tracy e Tom
Hanks, a ganhar dois Oscar em
anos consecutivos. Sua indicação
desta vez é pela biografia do matemático John Nash Jr., em "Uma
Mente Brilhante".
O forte lobby em torno de Denzel Washington ("Dia de Treinamento") e uma campanha contra
o filme são os empecilhos para
Crowe fazer história no prêmio.
Folha - Foi difícil se transformar
no matemático John Nash Jr.?
Russell Crowe - Isso se trata só de
interpretação, não existe mais nada envolvido. Busco uma atitude
física em relação aos personagens
quando é necessário. No caso de
"Uma Mente Brilhante", Nash
ainda está vivo, mas sua juventude não foi documentada. Nada,
nem a voz dele numa fita cassete.
Sylvia Nasar escreveu uma ótima biografia, mas nem ela teve
ajuda direta dele. Então só pude
pinçar apenas algumas nuances
do livro. Tive acesso a vídeos de
pessoas hospitalizadas com esquizofrenia, antes e depois do tratamento. Pude ver como essa
doença as alterava. Nash foi um
jovem muito forte. No entanto a
esquizofrenia o modificou completamente. Minha intenção não
foi copiá-lo, mas passar para o público o espírito de sua vida.
Folha - É fácil mergulhar num
personagem tão complexo como
um esquizofrênico e não "carregá-lo" para casa?
Crowe - Não costumo andar
com meus personagens a tiracolo.
Faço uso deles entre os gritos de
"ação" e "corta". Se você faz sua lição de casa, economiza energia
quando não está trabalhando.
Folha - Você é um dos poucos atores a ter uma atitude irônica sobre
Hollywood e sua máquina publicitária. Qual é sua reação ao Oscar?
Crowe - Bem, honestamente, devo dizer que ter vencido no ano
passado foi um dos bons momentos de minha vida, porque tive a
chance de subir ao palco e falar
sobre meu avô e também sobre
meu tio, que tinha acabado de
morrer. O momento do anúncio é
surreal. Você está sentado, bem
relaxado e escuta uma mulher dizer o seu nome. Parece que a terra
se afundou debaixo de você...
Folha - Sua visão sobre sua profissão mudou depois do sucesso?
Crowe - Não. Atuar ainda é uma
grande forma de arte, pois ela é viva e mutável. Veja o que [Marlon"
Brando fazia na década de 50: um
trabalho completamente diferente de todo o mundo. Depois veio
[Robert] De Niro com "O Touro
Indomável" e declarou um novo
padrão, em que a atitude física é
tão importante quanto a interna e
psicológica. Mais um pouquinho
e surge Daniel Day-Lewis. Tento
aprender com esses caras.
Folha - O sucesso colocou uma lupa sobre sua vida privada. Lemos a
respeito de seu estilo de vida "selvagem", os supostos romances e
festas. O que há de verdade nisso?
Crowe - Chegou a hora de falar
sobre meu divertido estilo de vida. Pelo menos é o que todos
acham, não? Mas não é assim.
Viajo para trabalhar. Tenho atravessado o mundo para trabalhar
nas mais diferentes localidades.
Uma paradinha para abastecer
nas ilhas Fiji e já dizem que eu tive
um caso com Nicole Kidman.
Ora, sou um profissional disciplinado. Se passasse minha vida em
festinhas, não alcançaria o nível
de exigência em meu trabalho que
me imponho. Nem ao cinema eu
vou. Vejo filmes nos aviões. Meu
pecado é gostar de pipoca [risos].
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