São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVRO/LANÇAMENTO

"ARTE BRASILEIRA HOJE"

Livro apresenta análises dos trabalhos de 25 artistas do país em ordem alfabética

Agnaldo Farias mapeia produção contemporânea

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Arte Brasileira Hoje", de Agnaldo Farias, é um livro correto. Apresenta assunto amplo por meio de 25 estudos de caso.
O autor lida com o tema em diversas frentes profissionais. Além de lecionar na USP de São Carlos, é curador da representação brasileira na 25ª Bienal de São Paulo e do recém-inaugurado Instituto Tomie Ohtake.
Farias desincumbe-se de resolver as querelas acerca do termo "arte contemporânea". Desde a introdução do livro, adota a postura consagrada de derivar a produção contemporânea de um esgotamento internacional da doutrina modernista da arte pela arte (páginas 15 e 16).
O reflexo brasileiro do fenômeno seria a crítica ao abstracionismo na passagem dos anos 50 para os 60. O evento é descrito como uma progressão emancipatória: "com as discussões em volta do expressionismo abstrato e sobretudo com o abstracionismo geométrico (concretismo e neoconcretismo), obteve-se a emancipação de nossa inteligência plástica" (página 17).
O recorte proposto leva a uma interpretação clara das décadas seguintes. A passagem dos anos 60 para os 70 privilegia a produção conceitual. Na década de 80, é enfatizado o retorno à pintura e à escultura no compasso de tendências transnacionais. Já os anos 90 assistem a uma investida contra o universalismo da linguagem artística, na esteira da ruptura com o modernismo.
Os capítulos ordenam-se alfabeticamente à maneira de verbetes. O primeiro, dedicado a Artur Barrio, já indica a preocupação em selecionar artistas com relevância atual. O artista manteve uma trajetória experimental desde os anos 70, e este ano participará da Documenta de Kassel, no próximo mês de junho.
Destacam-se os textos que aliam a objetividade histórica à análise técnica de obras, tais como aqueles sobre Leda Catunda, Carmela Gross, Ivens Machado e Lygia Pape. A descrição de processos produtivos é esclarecedora nos ensaios sobre Vik Muniz e Dudi Maia Rosa.
O público leigo no tema encontrará subsídios introdutórios nas notas de rodapé. Trata-se, contudo, de informação dispersa, já que essas referências históricas são mobilizadas para situar obras atuais, tal como a nota sobre Duchamp inserida no trecho sobre Jac Leirner (nota 5).
O método analítico proporciona uma reflexão comparativa. O leitor montará um panorama ao percorrer os diversos ensaios, sem que o autor determine uma síntese final da contemporaneidade.
O livro cumpre a diretriz da coleção "Folha Explica", conduzindo uma investigação comprometida com a atuação de artistas de impacto no Brasil e que circulam no debate transnacional de hoje.


Arte Brasileira Hoje    
Autor: Agnaldo Farias
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 9,90 (121 págs.)




Texto Anterior: "Sobral Pinto: a consciência do Brasil": Olhar americano esquadrinha o "inimigo nº 1 de Getúlio Vargas"
Próximo Texto: Arquitetura: Tese de Bo Bardi prega moral da profissão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.