São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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ARQUITETURA

Texto relançado em edição fac-similar serviria como porta de entrada da italiana na Universidade de SP

Tese de Bo Bardi prega moral da profissão

WASHINGTON DE CARVALHO NEVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Lina Bo Bardi (1914-1992), a arquiteta do Masp e do Sesc Pompéia, nunca deu aulas na universidade. Ela ensaiou sua entrada como professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP em 1957.
Desistiu ao optar por trabalhar em Salvador, onde sacudiu os estatutos seculares da arquitetura baiana. Gerações de alunos perderam a oportunidade de assistir às aulas de Lina e quem sabe fundar uma escola estilística.
O vácuo na história da arquitetura é agora redimido. O Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi tira dos arquivos a tese de ingresso para a FAU, "Contribuição Propedêutica ao Ensino da Teoria da Arquitetura". O texto relançado em versão fac-similar, com sabor de aula magna, homenageia os dez anos de morte da arquiteta de origem italiana.
O destino não quis que Lina ficasse confinada à sala de aula. Além do chamado baiano, a universidade cancelou o tal concurso de admissão. O que ficou dessa fase é a estrutura do pensamento teórico e humanista da arquiteta.
O livro de nome embaraçoso mantém a atualidade. Lina contesta o poder estatal, se subordina à história européia, comenta com bom humor a arquitetura sob encomenda e prega a moral como qualidade do arquiteto. A tecla que rebate em várias passagens do livro é a antipatia que tem pelo espírito romântico.
Ela critica a arquitetura importada da Europa ("Nem o bom gosto de sugerir o Novo Mundo existe") e antecipa que a atividade não deve relegar o meio ambiente a segundo plano. Lina diz que a erosão, os desvios dos rios, a falta de integração com a natureza devem estar previstos nas pranchetas dos arquitetos. É nesse capítulo que comenta a peculiaridade brasileira: "a natureza aqui sempre conserta".
O texto transparece em vários trechos a impaciência típica da arquiteta. "Qual a diferença entre passar sobre uma ponte e dançar num salão de bailes? O homem é sempre o protagonista e o espaço interno ou externo é secundário."
Para o professor da FAU Júlio Katinsky, Lina Bo Bardi tinha todos os requisitos para ser professora da FAU. "Se esse concurso prosseguisse, ela teria conquistado a sua vaga, sem dúvida. Ela era apaixonada pela atividade e acreditava no ensino como agente transformador da realidade", afirma Katinsky.


CONTRIBUIÇÃO PROPEDÊUTICA AO ENSINO DA TEORIA DA ARQUITETURA - Autora: Lina Bo Bardi. Editora: Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bo Bardi. Quanto: R$ 20 (96 págs.)



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