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ARQUITETURA
Texto relançado em edição fac-similar serviria como porta de entrada da italiana na Universidade de SP
Tese de Bo Bardi prega moral da profissão
WASHINGTON DE CARVALHO NEVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Lina Bo Bardi (1914-1992), a arquiteta do Masp e do Sesc Pompéia, nunca deu aulas na universidade. Ela ensaiou sua entrada como professora na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo (FAU)
da USP em 1957.
Desistiu ao optar por trabalhar
em Salvador, onde sacudiu os estatutos seculares da arquitetura
baiana. Gerações de alunos perderam a oportunidade de assistir
às aulas de Lina e quem sabe fundar uma escola estilística.
O vácuo na história da arquitetura é agora redimido. O Instituto
Lina Bo e Pietro Maria Bardi tira
dos arquivos a tese de ingresso
para a FAU, "Contribuição Propedêutica ao Ensino da Teoria da
Arquitetura". O texto relançado
em versão fac-similar, com sabor
de aula magna, homenageia os
dez anos de morte da arquiteta de
origem italiana.
O destino não quis que Lina ficasse confinada à sala de aula.
Além do chamado baiano, a universidade cancelou o tal concurso
de admissão. O que ficou dessa fase é a estrutura do pensamento
teórico e humanista da arquiteta.
O livro de nome embaraçoso
mantém a atualidade. Lina contesta o poder estatal, se subordina
à história européia, comenta com
bom humor a arquitetura sob encomenda e prega a moral como
qualidade do arquiteto. A tecla
que rebate em várias passagens
do livro é a antipatia que tem pelo
espírito romântico.
Ela critica a arquitetura importada da Europa ("Nem o bom
gosto de sugerir o Novo Mundo
existe") e antecipa que a atividade
não deve relegar o meio ambiente
a segundo plano. Lina diz que a
erosão, os desvios dos rios, a falta
de integração com a natureza devem estar previstos nas pranchetas dos arquitetos. É nesse capítulo que comenta a peculiaridade
brasileira: "a natureza aqui sempre conserta".
O texto transparece em vários
trechos a impaciência típica da arquiteta. "Qual a diferença entre
passar sobre uma ponte e dançar
num salão de bailes? O homem é
sempre o protagonista e o espaço
interno ou externo é secundário."
Para o professor da FAU Júlio
Katinsky, Lina Bo Bardi tinha todos os requisitos para ser professora da FAU. "Se esse concurso
prosseguisse, ela teria conquistado a sua vaga, sem dúvida. Ela era
apaixonada pela atividade e acreditava no ensino como agente
transformador da realidade", afirma Katinsky.
CONTRIBUIÇÃO PROPEDÊUTICA AO
ENSINO DA TEORIA DA ARQUITETURA
- Autora: Lina Bo Bardi. Editora: Instituto
Lina Bo e Pietro Maria Bo Bardi. Quanto:
R$ 20 (96 págs.)
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