São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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Esquerda italiana busca sair da apatia

DE PARIS

O diretor Nanni Moretti desencadeou uma mobilização da esquerda na Itália, após criticá-la duramente. "Lamento dizer, mas, com esses líderes, nunca venceremos", disse ele numa manifestação em Roma, em fevereiro.
O comentário despertou a esquerda de sua apatia. O diretor se transformou no símbolo de uma nova disposição política e esteve à frente de outras manifestações contra Berlusconi. Chegou-se a cogitar que ele se candidataria à Presidência, o que Moretti negou.
Moretti é o principal cineasta italiano, hoje. No ano passado, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes, com "O Quarto do Filho". Seus filmes não chegam a obter grande bilheteria na Itália, mas causam impacto na crítica.
Ele não foi o único a chamar a atenção do país, que, de repente, redescobriu o potencial crítico de seus intelectuais.
Muito mais famoso e estimado popularmente, o cômico e diretor Roberto Benigni deixou a Itália em suspenso com sua apresentação no festival de música de San Remo, no último dia 8, quando se esperava duros e irônicos ataques contra Berlusconi. As críticas foram brandas, mas comoveram o país. Ele pediu que o premiê tenha "orgulho de ser italiano". A apresentação foi uma das maiores audiências recentes da TV italiana.
Entre os escritores, Antonio Tabucchi é o mais ativo dos antiberlusconianos. "Berlusconi já começou a transformar as regras democráticas graças às quais ele foi eleito. Assiste-se na Itália a uma queda da democracia. Ou digamos que se terá uma democracia de um ponto de vista formal, mas não substancial", diz, em artigo publicado no diário francês "Le Monde", mas recusado pelos jornais italianos "Corriere della Sera" e "La Stampa".
Tabucchi será uma das principais presenças no 22º Salão do Livro de Paris, no qual estará a nata da literatura e do ensaísmo italianos, como Umberto Eco, Claudio Magris, Andrea Camilleri, Gianni Vatimo e Alessandro Baricco, bem como novos autores.
O salão terá 1.250 expositores de vários países e a expectativa é que seja visitado por mais de 250 mil pessoas. O Brasil, que foi o país homenageado há quatro anos, também participa do evento, trazendo a Paris autores como Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles.


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