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Esquerda italiana busca sair da apatia
DE PARIS
O diretor Nanni Moretti desencadeou uma mobilização da esquerda na Itália, após criticá-la
duramente. "Lamento dizer, mas,
com esses líderes, nunca venceremos", disse ele numa manifestação em Roma, em fevereiro.
O comentário despertou a esquerda de sua apatia. O diretor se
transformou no símbolo de uma
nova disposição política e esteve à
frente de outras manifestações
contra Berlusconi. Chegou-se a
cogitar que ele se candidataria à
Presidência, o que Moretti negou.
Moretti é o principal cineasta
italiano, hoje. No ano passado, ganhou a Palma de Ouro do Festival
de Cannes, com "O Quarto do Filho". Seus filmes não chegam a
obter grande bilheteria na Itália,
mas causam impacto na crítica.
Ele não foi o único a chamar a
atenção do país, que, de repente,
redescobriu o potencial crítico de
seus intelectuais.
Muito mais famoso e estimado
popularmente, o cômico e diretor
Roberto Benigni deixou a Itália
em suspenso com sua apresentação no festival de música de San
Remo, no último dia 8, quando se
esperava duros e irônicos ataques
contra Berlusconi. As críticas foram brandas, mas comoveram o
país. Ele pediu que o premiê tenha
"orgulho de ser italiano". A apresentação foi uma das maiores audiências recentes da TV italiana.
Entre os escritores, Antonio Tabucchi é o mais ativo dos antiberlusconianos. "Berlusconi já começou a transformar as regras democráticas graças às quais ele foi
eleito. Assiste-se na Itália a uma
queda da democracia. Ou digamos que se terá uma democracia
de um ponto de vista formal, mas
não substancial", diz, em artigo
publicado no diário francês "Le
Monde", mas recusado pelos jornais italianos "Corriere della Sera" e "La Stampa".
Tabucchi será uma das principais presenças no 22º Salão do Livro de Paris, no qual estará a nata
da literatura e do ensaísmo italianos, como Umberto Eco, Claudio
Magris, Andrea Camilleri, Gianni
Vatimo e Alessandro Baricco,
bem como novos autores.
O salão terá 1.250 expositores de
vários países e a expectativa é que
seja visitado por mais de 250 mil
pessoas. O Brasil, que foi o país
homenageado há quatro anos,
também participa do evento, trazendo a Paris autores como Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles.
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