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TELEVISÃO
"Por Amor" é prato cheio para os misóginos
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Também os misóginos estão enfurecidos com o Ratinho. Por sua
causa, estão comendo morno ou
até frio seu prato-feito de misoginia fornecido pela pensão. "Por
Amor", muito pontual até o aparecimento desse roedor de ibope.
Mas, uma vez entregue, morno
ou frio, o prato não fica vazio.
Os mais famintos começam a
refeição pela Isabel, a amante
chantagista. De minissaia e
meias pretas e rendadas, Cassia
Kiss se comporta como uma serpente de maçã várias vezes mordida. Enrosca-se em sua vítima
cada vez mais cruel em sua ambição. O assustador é que a maldade de seu sorriso sugere uma existência independente das câmeras.
Já os misóginos mais óbvios
mordem primeiro a Helena, a do
crime maternal hediondo. Ela é
uma criação da Regina Duarte,
namoradinha do Brasil por volta
de 1968. 1968? Isso mesmo, o ano
que não devia ter começado.
Como uma turista de pernas
arqueadas, ela caminha muito
perto do mar, de chapéu e saia
mijona. Iemanjá, por exemplo,
não aguenta mais. Mudou-se do
litoral do Rio e, cansada de tanta
culpa, não volta nem para pegar
os presentes de fim-de-ano. Pode
ganhar aquele diário confessor,
que usa uma almofada de sofá
como as sete chaves de seus segredos.
Os mais escandalosos em sua
misoginia preferem a Branca, a
vilã caricatural da Susana Vieira. Sempre vestida para sair, ela
fica presa ao seu dry martini e ao
seu sofá caseiros.
Num golpe que parece mais da
atriz que da personagem, ela tirou de cena a Carolina Ferraz,
sedutora universal em sua alegria e beleza, só para ganhar
tempo para monólogos malvados
e esnobes. A insistência no mesmo tom e inflexões permitia que,
fechando os olhos, o telespectador, visse e ouvisse a Rogéria, um
travesti também de longa duração.
A Eduarda (Gabriela Duarte) e
sua mochila vazia, os misóginos
de estômago fraco se recusam a
ver. Só prestaram atenção em sua
imitação do Titanic. Um naufrágio provocaria a morte sempre
adiada da mãe que só é filha. Ela
desembarcou mais irritante porque feliz, perpetrando um anticlímax imperdoável.
Na falta demorada da alegria
da Milena, só a emergente da
Françoise Forton desaponta misógino. Ela é tão digna em seu
comportamento de mãe e mulher, que o queridinho Atílio
(Antônio Fagundes) virou garoto-propaganda de Alphaville, onde a briga é só das Mercedes com
os BMW.
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