São Paulo, segunda, 23 de março de 1998

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OSCAR
"Sou inimitável', afirma Jack Nicholson

Reuters
Jack Nicholson, que concorre pela 11ª vez, por "Melhor é Impossível"


JEANNE WOLF
em Los Angeles

Jack Nicholson já é um ator legendário em seu próprio tempo e deixou marcas indeléveis em clássicos como "Chinatown".
Agora ele está no topo de uma nova onda de adulação por sua interpretação deliciosamente excêntrica e indicada para um Oscar como um obsessivo-compulsivo que se apaixona em "Melhor É Impossível", de James L. Brooks.
Nicholson, que já ganhou um Globo de Ouro e um prêmio da Screen Actor's Guild por sua interpretação, se encaminha como favorito para conquistar sua terceira estatueta -ganhou por "Um Estranho no Ninho" e "Laços de Ternura"-, depois de 11 indicações.
Em "Melhor É Impossível", Nicholson faz o papel de Melvin, um romancista romântico disfuncional que sofre de uma desordem obsessivo-compulsiva. Leia a seguir trechos da entrevista do ator.

Pergunta - Havia algo de você em Melvin?
Jack Nicholson -
Um pouquinho. Acredito que haja um pouquinho de Melvin em todos nós.
Pergunta - Por que seu personagem é tão insensível?
Nicholson -
Não encontro nada de particularmente inumano nele. Assim que você joga um cachorro lixeira abaixo, como ele faz no começo do filme, espera-se que seja capaz de qualquer coisa.
Pergunta - No caso de Melvin, assim que nos recuperamos do choque do que ele fez com o cachorro, não se torna um desafio para você fazê-lo simpático?
Nicholson -
É claro, porque ele é na verdade uma pessoa complicada. O desafio para mim era fazer com que vocês compreendessem alguém que pensa que, se não trancar a porta, pessoas vão entrar para roubá-lo e matá-lo.
Pergunta - No fim, trata-se de uma história sobre emoções humanas muito básicas, não?
Nicholson -
Era um tema muito humano -o de que nos deixamos aprisionar pelas coisas de que precisamos para nos sentir confortáveis. Acredito que também diga muito sobre o amor e a dificuldade de comunicar sentimentos. Trata-se de olhar além do que as pessoas parecem ser, tentar ver o que realmente são, e o quanto é difícil para elas se revelar.
Pergunta - Devido à sua reputação legendária, você não acha que os outros atores podem ficar um tanto intimidados em trabalhar com você?
Nicholson -
Não foi o caso nesse filme. Helen Hunt é imensamente talentosa e ganhou todos os prêmios possíveis na TV este ano. Jim Brooks entrou para o Hall da Fama da televisão. Cuba Gooding ganhou um Oscar. Uma coisa que aprendi nos meus anos no ramo é aquilo que não se carrega de um filme para outro: sua reputação. É preciso começar tudo de novo em cada novo estúdio de filmagem, com cada novo personagem.
Pergunta - Greg Kinnear o imita no filme. Há gente imitando você em toda a parte. Isso começa a cansar depois de algum tempo?
Nicholson -
Bem, se Greg está me imitando, me divirto. Em geral respondo dizendo que "bom, uma vez mais provei ser o inimitável Jack Nicholson". Ninguém gosta de ser retratado. Sou difícil de descrever. As pessoas tentam me imitar. Ninguém consegue.
Pergunta - Seus filmes recentes foram quase todos trabalhos de conjunto. Você prefere assim?
Nicholson -
Prefiro. Jamais permiti que me transformassem em sustentáculo único de um filme. Não quero mais ser o monte Rushmore. Odeio assumir o papel de veterano ardiloso.



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