São Paulo, segunda, 23 de março de 1998

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Barreto tem mais chances que antecessores

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O Brasil já participou da festa do Oscar com traje próprio e com traje emprestado ou alugado.
Com traje próprio, por exemplo, em 1963, com "O Pagador de Promessas", e em 1996, com "O Quatrilho" -ambos concorrentes brasileiros na categoria "melhor filme de língua estrangeira", como acontece agora com "O Que É Isso, Companheiro?".
Com roupa emprestada, o Brasil foi à festa em 1959, com a produção francesa "Orfeu do Carnaval", de Marcel Camus, e em 1986, com "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco.
O primeiro ganhou o Oscar de filme estrangeiro, só que para a França. Baseado em musical de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, foi rodado no Rio, com elenco predominantemente brasileiro e cara de "macumba para turista".
"O Beijo da Mulher Aranha", que concorreu a melhor filme (perdeu para "Entre Dois Amores"), é um exemplo acabado de produção sem pátria: dirigida por um argentino naturalizado brasileiro, baseava-se em romance de autor argentino ambientado num país qualquer da América Latina.
Tinha produtor americano, elenco misto (americano e brasileiro) e era falado em inglês. William Hurt ganhou a estatueta de melhor ator.
Há quem acuse (sem muita razão) "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte, de ter agradado as platéias internacionais por dar uma visão pitoresca do país, com seu sincretismo religioso, sua mistura de catolicismo e capoeira, sua arquitetura barroca.
O mesmo não se pode dizer de "O Quatrilho". Ao contar a história de imigrantes italianos no Sul do país, o filme fugiu do estereótipo mestiço, solar e malemolente que normalmente se espera de uma produção brasileira.
Sua fraqueza é de outra ordem: narração quadrada, caracterização engomada de época, dramaturgia de telenovela.
Seu parente próximo (em mais de um sentido), "O Que É Isso, Companheiro?" é muito mais dinâmico e interessante, embora ideologicamente discutível e tributário de um formato narrativo tipicamente norte-americano.
Se não lança mão do exótico, estende outras pontes para atingir o público dos EUA: trata do sequestro de um embaixador americano e é parcialmente falado em inglês.
Talvez por isso, pelas suas próprias qualidades e pelo fato de contar com uma difusão maior nos cinemas americanos, tem mais chance que seus antecessores de trazer a estatueta.


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