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Barreto tem mais chances que antecessores
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O Brasil já participou da festa do
Oscar com traje próprio e com traje emprestado ou alugado.
Com traje próprio, por exemplo,
em 1963, com "O Pagador de Promessas", e em 1996, com "O Quatrilho" -ambos concorrentes
brasileiros na categoria "melhor
filme de língua estrangeira", como
acontece agora com "O Que É Isso, Companheiro?".
Com roupa emprestada, o Brasil
foi à festa em 1959, com a produção francesa "Orfeu do Carnaval", de Marcel Camus, e em 1986,
com "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco.
O primeiro ganhou o Oscar de
filme estrangeiro, só que para a
França. Baseado em musical de
Vinícius de Moraes e Tom Jobim,
foi rodado no Rio, com elenco
predominantemente brasileiro e
cara de "macumba para turista".
"O Beijo da Mulher Aranha",
que concorreu a melhor filme
(perdeu para "Entre Dois Amores"), é um exemplo acabado de
produção sem pátria: dirigida por
um argentino naturalizado brasileiro, baseava-se em romance de
autor argentino ambientado num
país qualquer da América Latina.
Tinha produtor americano,
elenco misto (americano e brasileiro) e era falado em inglês. William Hurt ganhou a estatueta de
melhor ator.
Há quem acuse (sem muita razão) "O Pagador de Promessas",
de Anselmo Duarte, de ter agradado as platéias internacionais por
dar uma visão pitoresca do país,
com seu sincretismo religioso, sua
mistura de catolicismo e capoeira,
sua arquitetura barroca.
O mesmo não se pode dizer de
"O Quatrilho". Ao contar a história de imigrantes italianos no Sul
do país, o filme fugiu do estereótipo mestiço, solar e malemolente
que normalmente se espera de
uma produção brasileira.
Sua fraqueza é de outra ordem:
narração quadrada, caracterização engomada de época, dramaturgia de telenovela.
Seu parente próximo (em mais
de um sentido), "O Que É Isso,
Companheiro?" é muito mais dinâmico e interessante, embora
ideologicamente discutível e tributário de um formato narrativo
tipicamente norte-americano.
Se não lança mão do exótico, estende outras pontes para atingir o
público dos EUA: trata do sequestro de um embaixador americano
e é parcialmente falado em inglês.
Talvez por isso, pelas suas próprias qualidades e pelo fato de
contar com uma difusão maior
nos cinemas americanos, tem
mais chance que seus antecessores
de trazer a estatueta.
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