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"Éonoé" questiona as
causas da criação humana
do enviado especial
A premiação no "fringe" do
festival de Edimburgo do ano
passado (um entre três premiados, em 1.643 espetáculos)
atesta a qualidade do teatro do
grupo Pia Fraus.
O espetáculo era "Flor de
Obsessão", visto antes em São
Paulo e também no último -e
ótimo- festival de Curitiba. O
grupo, em "Flor de Obsessão", aventurou-se pela primeira vez para além do teatro
de animação.
Em "Éonoé", obra em progresso que apresentaram este
final de semana no festival de
Curitiba, os três integrantes do
Pia Fraus deixam de vez os bonecos e tomam o palco, ao lado
da talentosa -e corajosa-
Carla Candiotto.
Em exercício de grande risco,
trabalham com texto, o que é
outra novidade, com trapézio e
na rua. O espetáculo está em
desenvolvimento, mas já é
possível especular aonde querem chegar.
Com uma trilha que vai saltando de Raul Seixas ao bate-estaca "techno", buscam a
integração da narrativa e dos
semidiálogos sobre arquétipos
e apocalipse com a violência física, "raw", crua, deste fim de
século e milênio.
Aqui e ali, é possível distinguir alguma influência do grupo espanhol La Fura dels Baus.
O título é, em parte, um trocadilho com Noé, personagem
bíblico e da própria peça. "Éonoé" toma o ato da criação do
homem, depois Noé e o dilúvio
como centros de uma alegoria
para perguntar, como adianta
o programa do espetáculo:
"Quem sou eu? Existe Deus?
Por que foi que eu nasci?"
A alegoria (e o texto de risco,
nada convencional, de José
Rubens Siqueira) vai exigir
maior aprofundamento, pelos
quatro atores ainda muito presos às marcações e ao desenvolvimento da criação física,
mas o divertimento está garantido desde já.
"Éonoé" poderia passar facilmente como um sofisticado
show de música pop. Empolga
espectadores não costumeiramente voltados ao teatro, como se pôde ver na praça em
que foi exibido em Curitiba.
A vigorosa, até agressiva coreografia de Adriana Grecchi,
da companhia Nova Dança, é
apenas um dos muitos caminhos de alta qualidade abertos
por "Éonoé". Outro é a técnica circense, "suja" e bela, de
Domingos Montagner.
(NS)
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