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O REBELDE
Liam brilha com desdém
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Deve ser bastante difícil ser irmão de Noel Gallagher. Mas, no
caso de Liam, vocalista e imagem
do Oasis, mais do que dificuldade,
parece haver perigo.
O "kid" disputa com o irmão esbanjando, na mesma proporção,
um talento de natureza diferente,
talvez complementar, dificultando as formas de comparação.
Pois, se a música de Noel é um
espelho competente e genial das
referências pop das últimas quatro
décadas, Liam personifica e dá voz
a essas referências.
Alan McGee, que descobriu a
banda e tornou-se seu manager,
disse que "Liam tem a atitude de
Johnny Rotten e canta mais que o
Lennon", ficando com o primeiro
lugar no top 5 de vocalistas de
rock. Fora os comprometimentos,
a afirmação contém verdades.
No palco, Liam age não como
quem quer conquistar a platéia,
mas como quem já a conquistou.
Assim, como em alguns relacionamentos amorosos, joga com ela o
jogo do desdém: quanto menos ele
pede, mais ela dá.
Uma outra referência é a sua inconsequência quase infantil. Por
isso, parte do público, especialmente masculino, o vê como um
tipo de palhaço irresponsável.
Para as garotas, essa faceta tem
outro atrativo: é a porção garoto
malvado que vive o presente, que
um dia está louco e, no outro,
mostra sinais da ressaca.
Todo o tempo, Liam divide o poder no palco com Noel. Mesmo
quando o irmão libera o "guitar
hero" ao máximo, ele vai, pelas
beiradas, garantir sua presença.
Um bom exemplo, no show de
ontem, em São Paulo, ocorreu
quando Noel deixou o palco ovacionado, após um set acústico e o
hit "Don"t Look Back in Anger".
Liam se impôs novamente com
"Wonderwall", sem deixar cair
nem por um segundo a satisfação
do público. Nesse momento, ele
tem algo de McCartney, cantando
uma perfeita balada.
Até aí, ótimo. O perigo reside no
fato de que, nesse jogo de personas, talvez more algo de trágico. É
provável que nada aconteça, ou
que seja tudo calculado. Mas a
possibilidade existe, e nada é mais
importante para o pop.
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