São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2001

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SERTÃO

Livro do autor é tema de espetáculo que mistura orquestra, coral e atores

Guimarães Rosa inspira "ópera-teatro" em Minas

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

É ópera, mas tem teatro, diálogos e uma porção de atores. É teatro, mas tem uma orquestra sinfônica, solistas e bailarinos. É literatura e é mesmo, porque tem Guimarães Rosa (1908-1967).
Inspirado na obra-prima do escritor mineiro, o romance "Grande Sertão: Veredas", um grupo de artistas de Minas Gerais resolveu criar uma ópera teatral que pudesse apresentar, no palco, um pouco da inventividade que a obra "Grande Sertão" trouxe à linguagem literária, em 1956.
Depois de mais de dois anos de preparativos, estréia quarta-feira, em Belo Horizonte, o espetáculo "Sertão: Sertões", com partitura original, orquestra sinfônica, coral lírico, coral infantil, bailarinos, solistas, atores e o toque do sertão -violas e violões caipiras introduzidos em meio aos violoncelos e violinos da orquestra.
A "ópera mineira", como está sendo batizada pelos organizadores, pinça fragmentos da obra de Rosa, ao contar, em adaptação, a epopéia de Riobaldo e Diadorim pelos sertões de Minas Gerais.
A idéia era estreá-la no ano passado -como parte das comemorações dos 30 anos do Palácio das Artes, principal casa de espetáculos da capital mineira-, mas o grande número de pormenores acabou atropelando as datas previstas. A partitura, por exemplo, composta pelo argentino Rufo Herrera, demorou um ano para ser concluída.
O fato é que Mauro Werkema, presidente da Fundação Clóvis Salgado -entidade que produziu a montagem e que administra o Palácio das Artes-, queria Rosa para coroar os 30 anos da casa. Para isso, derrubou, entre outros, Aleijadinho e os inconfidentes de Ouro Preto.
"Grande Sertão" é de 1956, é uma coisa muito recente. É uma coisa ainda em decifração, em discussão. Então, nós, pensando em fazer uma coisa mineira, dissemos: "Vamos fazer século 18 outra vez, Aleijadinho, Inconfidência Mineira, Barroco? Não, vamos fazer uma coisa que está aqui, na nossa porta'", disse.
O texto de "Grande Sertão" foi adaptado para o espetáculo pelo mineiro Carlos Rocha, que também é um dos diretores. Rocha já havia dirigido uma montagem do romance para o teatro, em 1986, tendo a apresentado em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Ele divide a direção com a encenadora baiana Carmem Paternostro.
A ópera teatral é dividida em sete partes nas quais mostra a relação entre Deus e o Diabo, o romance entre Riobaldo e Diadorim -que esconde ser mulher até a sua morte-, os questionamentos filosóficos do primeiro e a luta entre os bandos rivais de jagunços sertanejos.
O cenário é composto, ao fundo, por pedaços de isopor colados a uma estrutura de ferro, que, segundo o figurinista André Cortez, responsável pelos cenários, traz a "secura" do sertão e, de acordo com a iluminação, a "ternura da feminilidade, do útero".
A apresentação de "Sertão: Sertões" está prevista, por enquanto, para ocorrer apenas em Belo Horizonte. Caso consiga patrocínio, pode ir, em versão reduzida, para outras partes do país.
A montagem custou à fundação cerca de R$ 500 mil, dinheiro que veio de empresas que se beneficiaram com a lei estadual de incentivo à cultura. Os gastos foram reduzidos, já que a infra-estrutura e grande parte do pessoal pertencem à própria fundação.

SERTÃO: SERTÕES - Ópera teatral. Onde: Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Belo Horizonte, MG, tel. 0/xx/31/3237-7399. Quando: estréia dia 25/5; de qua. a sáb., às 20h30. Quanto: de R$10 a R$20, estudantes pagam meia.



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