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SERTÃO
Livro do autor é tema de espetáculo que mistura orquestra, coral e atores
Guimarães Rosa inspira "ópera-teatro" em Minas
RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
É ópera, mas tem teatro, diálogos e uma porção de atores. É teatro, mas tem uma orquestra sinfônica, solistas e bailarinos. É literatura e é mesmo, porque tem Guimarães Rosa (1908-1967).
Inspirado na obra-prima do escritor mineiro, o romance "Grande Sertão: Veredas", um grupo de
artistas de Minas Gerais resolveu
criar uma ópera teatral que pudesse apresentar, no palco, um
pouco da inventividade que a
obra "Grande Sertão" trouxe à
linguagem literária, em 1956.
Depois de mais de dois anos de
preparativos, estréia quarta-feira,
em Belo Horizonte, o espetáculo
"Sertão: Sertões", com partitura
original, orquestra sinfônica, coral lírico, coral infantil, bailarinos,
solistas, atores e o toque do sertão
-violas e violões caipiras introduzidos em meio aos violoncelos
e violinos da orquestra.
A "ópera mineira", como está
sendo batizada pelos organizadores, pinça fragmentos da obra de
Rosa, ao contar, em adaptação, a
epopéia de Riobaldo e Diadorim
pelos sertões de Minas Gerais.
A idéia era estreá-la no ano passado -como parte das comemorações dos 30 anos do Palácio das
Artes, principal casa de espetáculos da capital mineira-, mas o
grande número de pormenores
acabou atropelando as datas previstas. A partitura, por exemplo,
composta pelo argentino Rufo
Herrera, demorou um ano para
ser concluída.
O fato é que Mauro Werkema,
presidente da Fundação Clóvis
Salgado -entidade que produziu
a montagem e que administra o
Palácio das Artes-, queria Rosa
para coroar os 30 anos da casa.
Para isso, derrubou, entre outros,
Aleijadinho e os inconfidentes de
Ouro Preto.
"Grande Sertão" é de 1956, é
uma coisa muito recente. É uma
coisa ainda em decifração, em discussão. Então, nós, pensando em
fazer uma coisa mineira, dissemos: "Vamos fazer século 18 outra
vez, Aleijadinho, Inconfidência
Mineira, Barroco? Não, vamos fazer uma coisa que está aqui, na
nossa porta'", disse.
O texto de "Grande Sertão" foi
adaptado para o espetáculo pelo
mineiro Carlos Rocha, que também é um dos diretores. Rocha já
havia dirigido uma montagem do
romance para o teatro, em 1986,
tendo a apresentado em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Ele divide a direção com a encenadora baiana Carmem Paternostro.
A ópera teatral é dividida em sete partes nas quais mostra a relação entre Deus e o Diabo, o romance entre Riobaldo e Diadorim
-que esconde ser mulher até a
sua morte-, os questionamentos
filosóficos do primeiro e a luta entre os bandos rivais de jagunços
sertanejos.
O cenário é composto, ao fundo, por pedaços de isopor colados
a uma estrutura de ferro, que, segundo o figurinista André Cortez,
responsável pelos cenários, traz a
"secura" do sertão e, de acordo
com a iluminação, a "ternura da
feminilidade, do útero".
A apresentação de "Sertão: Sertões" está prevista, por enquanto,
para ocorrer apenas em Belo Horizonte. Caso consiga patrocínio,
pode ir, em versão reduzida, para
outras partes do país.
A montagem custou à fundação
cerca de R$ 500 mil, dinheiro que
veio de empresas que se beneficiaram com a lei estadual de incentivo à cultura. Os gastos foram
reduzidos, já que a infra-estrutura
e grande parte do pessoal pertencem à própria fundação.
SERTÃO: SERTÕES - Ópera teatral. Onde:
Grande Teatro do Palácio das Artes (av.
Afonso Pena, 1.537, Belo Horizonte, MG,
tel. 0/xx/31/3237-7399. Quando: estréia
dia 25/5; de qua. a sáb., às 20h30.
Quanto: de R$10 a R$20, estudantes
pagam meia.
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