São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

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Bíblia laica traz evangelho de filósofos

Obra que está entre as mais vendidas no Reino Unido reúne citações de pensadores na estrutura do livro cristão

Autor A. C. Grayling diz que não se opõe à Bíblia original, e sim mostra "a sabedoria que nasce dos próprios homens"

JOSÉLIA AGUIAR
COLUNISTA DA FOLHA

A. C. Grayling se diz a versão suave de Richard Dawkins e Christopher Hitchens, dois ateus que militam contra Deus nos livros e na imprensa. Sua nova obra, como explica, não é "contra a religião". Apenas a ignora.
"The Good Book: A Humanist Bible" (o livro bom: uma bíblia humanista, na tradução literal) quer ser fonte de inspiração, reflexão e consolo, partindo da tradição laica do Ocidente e do Oriente.
"Ao se fixar em Deus e no que há após a morte, pessoas se distraem da vida", diz à Folha. Ninguém cai em desgraça se come o fruto da sabedoria, sugere o professor de filosofia da Universidade de Londres, autor de quase 30 livros.
Por décadas, anotou o que disse Aristóteles, Heródoto, Safo, Nietzsche, Baudelaire, Rimbaud, Newton e editou as citações com estrutura e linguagem semelhantes às da Bíblia.
Publicado há duas semanas na Inglaterra, o livro está na lista de mais vendidos. Foi comprado pela Objetiva/Alfaguara e sai em 2012. Com bom humor, Grayling conta que sua mulher fez para ele um cartão que diz: "Achava que era ateu até que descobri que era Deus".

 


Folha - Com a bíblia laica, o sr. diz ajudar leitores a ter uma vida boa. O que é isso?
A. C. Grayling - Ser bom e ter afetos costumam levá-lo a ter uma vida melhor. Diferentemente da Bíblia, porém, este livro mostra que não há modo único de conduzir a vida, que é muito curta para tantas brigas. O mais importante é que o leitor pense por si mesmo e não tenha de seguir regras irracionalmente.

"Tudo de que você precisa é amor", "Pense por si mesmo" e "a vida é muito curta para tantas brigas" são letras dos Beatles.

Não tinha pensado nisso. É a prova de que essa sabedoria pode ser encontrada também no senso comum.

Em oposição à Bíblia, o livro sugere retornar aos gregos?
Não só aos gregos, mas à tradição humanista que começa com eles e permanece até hoje. E, apesar de ateu, não quis me opor à Bíblia, apenas mostrar a sabedoria que nasce dos próprios homens sem tratar de Deus ou de vida após a morte.

Se não se opõe, por que se baseou na estrutura da Bíblia?
Primeiro porque o livro se torna muito acessível: você pode ler um ou dois trechos e pensar a respeito. E sem autores citados, você se concentra no que é dito, e não em quem e quando disse.
É inevitável querer saber de quem é cada citação...
Várias pessoas reclamam disso. Mas é como ver uma exposição e se concentrar nas legendas. O mais importante são as pinturas. E quer saber? Queria não ser identificado como autor do livro. Meus editores não deixaram.

Por que a religião voltou a ser tema de livros e da mídia?
Justamente por causa do seu declínio.

THE GOOD BOOK: A HUMANIST BIBLE

AUTOR A. C. Grayling
EDITORA Walker & Company
QUANTO US$ 21 na www.amazon.com (cerca de R$ 33; 600 págs.)


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